Título: QUEIXAS CONTRA FLANELINHAS E CAMELÔS DOBRAM
Autor: Selma Schmidt/Ruben Berta
Fonte: O Globo, 20/11/2005, Rio, p. 19

Ligações para o Disque-Denúncia apontam até o envolvimento de ambulantes e guardadores no tráfico de drogas

Um flanelinha incomoda muita gente e um camelô não deixa por menos. Segundo levantamento inédito da Gerência de Análise do Disque-Denúncia (2533-1177), cresce o número de reclamações contra o que muitos consideram verdadeiras pragas urbanas: de janeiro a outubro deste ano, foram 357 ligações relacionadas a guardadores de veículos em situação irregular. Mais do que o dobro das 133 registradas no mesmo período do ano passado. Os ambulantes também não ficam muito atrás: foram 288 denúncias de janeiro a outubro de 2005 contra 187 no período em 2004 - um aumento de 54%.

Os relatos encaminhados pelo Disque-Denúncia ao GLOBO mostram que o combate a camelôs e flanelinhas já supera a questão da ordem urbana para entrar na área da segurança pública. Em ambos os casos, há reclamações de que as profissões, ilegais, são usadas como fachada para outras práticas ilícitas. Há registros de denúncias, por exemplo, de tráfico e uso de drogas tanto por ambulantes quanto por guardadores.

Entre os camelôs, relatos do Disque-Denúncia mostram as mais diversas irregularidades: comércio de armas de brinquedo e mercadorias como celulares, relógios, DVDs, CDs e até bilhetes de metrô roubados. Barracas também venderiam fogos de artifício, bebidas alcoólicas e material pornográfico para menores.

A venda de mercadorias falsas como cigarros, CDs, DVDs, roupas e tênis de grife é comum entre as denúncias e facilmente constatada no Centro. Na Avenida Presidente Vargas, em frente à Rua Armando Sales de Oliveira, os camelôs expõem capas de produtos piratas. Os CDs são vendidos por R$5. Quem compra três, paga R$10. Já os DVDs custam R$4,99. À medida que o cliente se interessa, o ambulante pega o produto em bolsas ou em barracas do camelódromo oficial na Rua Uruguaiana.

Camelôs usam carrinhos para facilitar fuga

Na Avenida Rio Branco e em ruas transversais - como Sete de Setembro e Assembléia - alguns camelôs expõem mercadorias em carrinhos com rodas, que são deslocados com facilidade à medida que a fiscalização se aproxima. Em frente ao Edifício Avenida Central, onde funciona um shopping de informática, camelôs se postam na rua e, aos gritos, oferecem cópias de programas de computador sem ao menos mostrar a capa do produto.

- XP, Windows, Office! - grita um deles, que, ao ser abordado por uma repórter do GLOBO que se diz interessada em comprar um dos programas, corre até uma barraca do camelódromo autorizado do Largo da Carioca para buscar o CD.

Nas queixas relacionadas a flanelinhas do relatório, além da extorsão, há referências a supostos roubos de veículos praticados com a conivência de guardadores. A média de cobrança relatada varia entre R$3 e R$10, mas não pararia por aí: em dias de eventos, em locais como a Igreja Nossa Senhora de Bonsucesso, na Praça Quinze, e no Armazém do Cais do Porto, os preços chegariam a R$25.

Em algumas áreas regulamentadas, o mercado do estacionamento é dividido entre guardadores e flanelinhas. É o caso, por exemplo, do Rio Rotativo implantado na Avenida Graça Aranha, no Centro, onde uma prática se perpetua: quem não deixa a chave com um flanelinha e paga entre R$5 e R$10, dependendo do tempo de permanência, não consegue vaga.

À noite, em ruas vizinhas à Lapa, são os flanelinhas que dão as cartas. Eles pulam na frente do carros, numa disputa por fregueses que atordoa os motoristas que querem apenas seguir em frente.

Ações de repressão e reordenamento são armas que a prefeitura aposta para reduzir o número de camelôs em situação irregular. Segundo o coordenador do Departamento de Controle Urbano da Secretaria de Governo, Lúcio Costa, o município quer regularizar pequenos assentamentos em vez de amplos camelódromos. Já a Guarda Municipal ampliou o trabalho de combate itinerante contra ambulantes feito pelo Grupamento Tático-Móvel (GTM), que vinha atuando só no Centro.

Desde julho, a equipe do GTM realiza operações em bairros como Copacabana, Ipanema, Leblon, Tijuca e Vila Isabel. Este ano já foram realizadas 2.316 ações para a apreensão de mercadorias por toda a corporação. Os conflitos continuam, mas diminuíram: desde janeiro foram registrados 23 (cinco no Centro), com 24 guardas feridos e 23 camelôs detidos.

Sindicato: ação da PM contra flanelinhas não vingou

Para tentar organizar o trabalho de camelôs legalizados, dois assentamentos começaram a ser testados pela prefeitura no Centro: um na Avenida Erasmo Braga, com 36 barracas, e outro na Rua do Carmo, com 20.

- Os camelódromos não deram certo. Temos condições de controlar mais os pequenos assentamentos. Os da Erasmo Braga e da Rua do Carmo necessitam de ajustes, mas a situação está melhor que antes - diz Lúcio Costa.

Em janeiro, o Comando Geral da PM determinou aos batalhões que coibissem a ação de flanelinhas, mas, segundo o presidente do Sindicato dos Guardadores Autônomos, José Vieira, a iniciativa não vingou:

- É fácil diferenciar quem é ou não legalizado. Além disso, a cada grande evento, mandamos a listagem com os guardadores para o batalhão da área. Quem estiver atuando como flanelinha precisa ser detido.

O relações públicas da PM, tenente-coronel Aristeu Leonardo, diz que a corporação continua realizando operações de combate a flanelinhas. A prioridade, segundo ele, tem sido os pontos de grande concentração de público. O coronel lamenta, porém, que falte colaboração de responsáveis por eventos e de motoristas:

- Os organizadores de eventos têm de oferecer vagas para os seus convidados. Já os motoristas estimulam os flanelinhas ao entregarem até as chaves de seus carros para eles.

www.oglobo.com.br/rio

COLABOROU: Ruben Berta

Golpes se estendem ao Rio Rotativo

CET-Rio alerta os usuários de vagas regulamentadas

Mesmo em estacionamentos oficiais do Rio Rotativo, com 39.528 vagas, operados por guardadores, os motoristas têm problemas. Alguns golpes têm sido aplicados, como o de que o talão está em falta e o de pedir mais R$1 ou R$2 por fora, além da tarifa de R$2. O chefe de Gabinete da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Dalny Sucasas, alerta os usuários para que anotem o número do colete cinza do guardador, o local e a hora onde o fato ocorreu, informando à CET-Rio.

- O preço do Rio Rotativo é um só: R$2 para estacionamentos de duas horas, quatro horas e período único. A permanência máxima está estipulada na sinalização vertical implantada em cada área. Também não existe falta de talões. A CET-Rio tem talonários disponíveis, que são vendidos às entidades credenciadas na prefeitura (sindicato e cooperativas de guardadores autônomos), que os revendem aos guardadores que trabalham nas ruas - diz Sucasas.

O usuário que tiver reclamações pode entrar em contato com a Ouvidoria da CET-Rio, através do telefone 2539-2022 ou do site da prefeitura (www.rio.rj.gov.br).

Sucasas lembra que a colocação do tíquete à mostra dentro do veículo é obrigatória. O motorista que estacionar sem o talão e for flagrado pela fiscalização corre o risco de ser multado e ter o carro rebocado. A responsabilidade de preencher o tíquete e estacionar o veículo corretamente é do motorista. Mas o vendedor de tíquetes pode preenchê-lo e orientar o motorista a estacionar, se este concordar.

Os moradores de prédios sem garagem situados em ruas onde foi implantado o Rio Rotativo podem se cadastrar para solicitar o Cartão Morador. A posse do cartão proporciona gratuidade ao estacionar em qualquer vaga disponível de estacionamento regulamentado localizada no logradouro de sua residência.

Preços altos por uma vaga

CAIS DO PORTO: No Armazém 6 cobram até R$25.

IGREJA NOSSA SENHORA DE BONSUCESSO: Na Praça Quinze. Em dia de casamento, chegam cobrar até R$20.

CORCOVADO: Entre R$25 e R$30, podendo chegar a R$50.

BOLSA DE VALORES: Próximo ao prédio da Bolsa, na Praça Quinze, cobram entre R$5 e R$10.

FUNDIÇÃO PROGRESSO: Nas proximidades da Fundição cobram até R$10.

RUA DEBRET: Até R$10.

PRAÇA SÃO JUDAS TADEU: No Cosme Velho, próximo à Igreja São Judas Tadeu e a estação do trenzinho do Corcovado cobram entre R$15 e R$20, podendo chegar a R$30.

MERCADÃO DE MADUREIRA: Nas imediações do mercadão, cobram entre entre R$5 e R$10.

BONDINHO DO PÃO DE AÇÚCAR: Nas proximidades da estação do bondinho cobram até R$15.

Legenda da foto: NA LAPA à noite, um flanelinha salta na frente de um carro oferecendo uma vaga, que pode custar R$10