Título: Indústria: setembro estável e recorde no ano
Autor: Cássia Alm
Fonte: O Globo, 11/11/2004, Economia, p. 33
A produção industrial brasileira não aumentou em setembro em relação a agosto. A parada no crescimento, que vinha se repetindo há seis meses, é apenas uma acomodação da indústria depois do ritmo forte de recuperação verificado este ano, na avaliação do coordenador do Departamento de Indústria do IBGE, Sílvio Sales, que divulgou ontem a Pesquisa Industrial Mensal de setembro.
Apesar dessa parada, a indústria deve fechar 2004 com um desempenho recorde. Até setembro, já acumula alta de 9% e as previsões do Grupo de Conjuntura da UFRJ e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) são de alta de 8% na produção frente a 2003, a maior taxa em uma década. Em 1994, o melhor desempenho até agora, a produção aumentara 7,6%. E a pesquisa do IBGE mostra isso. Comparando a média de crescimento de janeiro a setembro com o resultado fechado de 2003, a produção já está 7,1% maior.
¿ A julgar pelos indicadores de emprego e salário industrial e de utilização de capacidade instalada, que estão crescendo, esse resultado de setembro não aponta para uma retração da indústria. Pelo contrário ¿ afirma Sales.
Massa salarial e emprego sustentam bem não-durável
A maioria das categorias nas quais a indústria está dividida reduziu a produção frente a agosto. Apenas o setor de bens não-duráveis (alimentos, bebidas, roupas, calçados e remédios) melhorou o desempenho em 1,5%. Fortemente dependente do aumento da massa salarial e do emprego, o setor vinha se recuperando a passos lentos, bem atrás de uma indústria com uma recuperação vigorosa.
Tanto assim que, enquanto os bens de capital (equipamentos para indústria) cresceram 25,7% no ano, os bens não-duráveis aumentaram a produção em apenas 3,9%:
¿ Esse resultado é consistente com o aumento da massa salarial. De fevereiro até setembro, houve alta de 6,9%. E o desemprego está diminuindo ¿ afirma Francisco Eduardo Pires de Souza, coordenador do Grupo de Conjuntura da UFRJ.
Mesmo assim, o economista diz que ainda é cedo para prever se o setor manterá esse ritmo de crescimento nos próximos meses. A parada na produção geral não preocupa o economista, que viu como natural um freio depois do ritmo forte observado na indústria nos últimos seis meses.
FGV vê soluço natural em ciclo de crescimento
De mesma opinião, Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, acredita que a freada é até positiva para a economia. Senão, poderia haver pressões inflacionárias.
¿ Esse movimento de acomodação reduz o ritmo de crescimento, porém o torna mais sustentado a longo prazo ¿ disse Levy, lembrando o investimento baixo no aumento da capacidade produtiva nos últimos anos.
Aloisio Campelo, coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que a taxa de setembro do IBGE mostra uma acomodação da indústria e não uma redução. Ele afirma isso com base na sondagem de outubro, feita pela FGV. A pesquisa, divulgada no fim do mês passado, apresenta demanda interna em alta.
¿ Esse resultado de setembro parece mais um soluço, natural num ciclo de retomada da atividade econômica.
Em relação a setembro de 2003, a produção continuou crescendo: 7, 6%.