Título: A diáspora
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/11/2005, O GLOBO, p. 2

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), jogou a toalha. Já não acredita mais que o PMDB possa ser parceiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reeleição. A decisão da bancada do PT na Câmara, de manter a verticalização, foi a pá de cal. Com a verticalização, prevê uma pressão insuportável das bases para que o partido não tenha candidato a presidente da República.

A ala de oposição, que não tem força para levar o PMDB para os braços do PSDB, já está defendendo essa tese. Muitos governistas, de olho nas eleições estaduais, em que o PMDB fará mais alianças com PSDB e PFL do que com o PT, também começam a abandonar a idéia de marchar com o presidente Lula. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi um dos que percebeu o movimento de afastamento do PMDB. Por isso, quarta-feira à noite, manobrou para que fosse adiada a votação da emenda da verticalização. Sua expectativa é de rever a posição do PT até terça-feira. Afinal, além de perder o PMDB, a reeleição do presidente Lula ficaria também sem a possibilidade de ter o apoio de PL, PP e PTB. Isso implica em prejuízos na distribuição do tempo de propaganda eleitoral gratuita na televisão.

Além da conveniência eleitoral e da mazela ética, há um novo complicador político para a reeleição: a previsão de um PIB negativo no terceiro semestre.

¿ A reeleição do presidente Lula está baseada num tripé: o crescimento da economia, os programas sociais e o seu carisma pessoal. Se a economia não produzir resultados positivos está quebrada uma das pernas da reeleição ¿ diz o presidente do Senado.

As perspectivas não são animadoras se os sacrifícios feitos na área econômica não tiverem a contrapartida em crescimento. A perda de apoio político se intensificará à medida que as eleições se aproximarem. A começar pelo próprio PMDB, que tem prévias para a escolha de seu candidato a presidente marcadas para 5 de março.

Renan Calheiros procura ganhar tempo. Usando como argumento a governabilidade, está propondo abertamente o adiamento das prévias para junho. Diz que sua realização em março implica no imediato afastamento do PMDB do governo. Mas o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), diz que não pensa em adiar as prévias e alerta que somente a executiva poderia tomar essa decisão.