Título: HORA DE PONDERAR
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 25/11/2005, O País, p. 10

A VOTAÇÃO no Supremo referente ao processo de cassação do deputado José Dirceu deixa o país em suspenso.

SE, POR hipótese, tivesse acontecido uma decisão clara, num sentido ou no outro, não haveria o que discutir.

NÃO FOI o que se viu: o Supremo literalmente rachou ao meio, houve ministros que mudaram voto, etc. O que mostra que este é um assunto que extrapola a dimensão puramente técnica.

CONSIDERAÇÕES técnicas à parte, pode-se classificar como preciosismo a tese de que o deputado José Dirceu foi, de algum modo, cerceado em seu direito de defesa. O que ele tem a dizer ou a alegar é sobejamente conhecido.

MAS EM nome desse preciosismo, as coisas já foram refeitas várias vezes, de modo a exasperar os ânimos. O Conselho de Ética da Câmara já reviu procedimentos, já refez o relatório. A deputada que defende Dirceu prosseguiu com a sua tática protelatória. Mas a Câmara se impacienta, fala em realizar o julgamento a despeito do Supremo.

É NESSE momento, e nessas circunstâncias, que um julgamento ultrapassa o simplesmente técnico. A esta altura, já estamos falando na boa convivência de poderes, e na tranqüilidade da República.

O QUE confere uma gravidade especial ao voto faltante, do ministro Sepúlveda Pertence. Não será um voto como qualquer outro.