Título: João Paulo não consegue explicar notas sob suspeita
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 25/11/2005, O País, p. 11
Ex-presidente da Câmara depõe no Conselho e complica ainda mais sua situação no processo de cassação
BRASÍLIA. O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, depôs ontem no Conselho de Ética e responsabilizou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pelo saque de R$50 mil das contas do empresário Marcos Valério de Souza. No entanto, não conseguiu explicar as suspeitas do relator do processo, deputado Cézar Schirmer (PMDB-RS), sobre notas fiscais que comprovariam o uso dos R$50 mil e as irregularidades do contrato da Câmara com a empresa SMP&B, de Marcos Valério. Ele acabou admitindo que não contabilizou os R$50 mil.
¿ Eu não sei se o diretório nacional contabilizou ou não. Eu não me dei conta, na ocasião, dos problemas contábeis, da burocracia. Não levei as notas ao diretório nacional ¿ afirmou.
Numa das mais longas inquirições, o relator questionou as três notas fiscais do instituto de pesquisa Data Vale apresentadas por João Paulo. Schirmer suspeita de irregularidade porque as notas tinham números seqüenciais, mesmo emitidas com um intervalo de quase quatro meses.
¿ Ou a empresa só realizou o trabalho pedido por João Paulo (no período), ou praticou evasão fiscal, ou fraudou as notas ¿ disse o relator.
O ex-presidente da Câmara não soube responder a razão dos números em seqüência. Mas argumentou que o importante era que as pesquisas foram feitas e pagas com o dinheiro repassado por Delúbio.
Ele negou ser amigo de Marcos Valério. Pediu pressa na apreciação de seu processo e disse que não apresentou testemunhas porque os 512 deputados conhecem o seu caráter.