Título: VAGAS LIMITADAS
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 25/11/2005, Economia, p. 27

Em vez de cair devido ao Natal, desemprego ficou estagnado em outubro e renda encolheu

Afrustração marcou o mercado de trabalho em outubro. A taxa de desemprego se manteve em 9,6%, sem que houvesse abertura de vagas numa época do ano em que as contratações aumentam para fazer frente ao aquecimento da economia no Natal. Para aumentar a decepção, a Pesquisa Mensal de Emprego divulgada ontem pelo IBGE mostrou queda no rendimento médio real do trabalhador de 1,4% frente a setembro, ficando em R$966,10. O desaquecimento da economia causado pelos juros altos se refletiu no mercado de trabalho, dizem analistas.

¿ Realmente, o resultado frustrou as expectativas. A taxa está engessada nesse patamar há meses ¿ disse Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.

A taxa de desemprego se mantém entre 9,4% e 9,6%, desde junho, nas seis regiões metropolitanas (Rio, São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte) acompanhadas pela pesquisa do IBGE. Olhando os números da pesquisa, parece que não houve movimentação da mão-de-obra de setembro para outubro nas principais capitais brasileiras. O número de trabalhadores ocupados cresceu apenas em dez mil pessoas e sete mil desistiram de procurar uma vaga.

¿ O mercado de trabalho está refletindo o desaquecimento da economia vivido no terceiro trimestre, que está se prolongando no fim do ano. Apesar de a taxa de desemprego estar menor que no ano passado, a geração de postos não cresceu com o mesmo vigor ¿ disse o economista João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ.

E os números da pesquisa indicam esse ritmo menor. De janeiro a outubro do ano passado, foram abertas 940 mil vagas nas seis regiões. Em 2005, no mesmo período, o número caiu para 584 mil, queda de 37,9%:

¿ Em relação a outubro de 2004, houve abertura de 415 mil postos. Esse número é o menor desde março de 2004. O mercado está apático, sem combustão. Foi um banho de água fria essa estagnação. Mas acredito que a taxa de desemprego ainda caia este ano. Queda que deve ser puxada pelas vagas temporárias no comércio no fim do ano e pela redução na procura, que diminui muito no período de festas de fim de ano ¿ disse Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Azeredo, do IBGE, porém, chama a atenção para a qualidade do emprego criado no ano passado. Segundo o gerente da pesquisa, as ocupações agora são de mais qualidade. Em 2004, com a queda forte do rendimento, explica, membros secundários das famílias foram à procura de emprego.

¿ Este ano, a criação maior de vagas veio com carteira assinada e o rendimento teve ligeira melhora.

Apesar da queda contra setembro, o salário apresenta leve recuperação quando se compara a renda do mês passado com a de outubro de 2004. Nessa comparação, a alta é de 1,8%. Na média dos dez primeiros meses do ano, o rendimento cresceu 1,62% frente à média do ano passado. Mas Azeredo, do IBGE, explica que o ano de 2004 foi marcado pelo rendimento baixo:

¿ Era de se esperar uma recuperação em 2005.

Com o crescimento da ocupação, mesmo abaixo do ano passado, mais a reação na renda, a massa de salários cresceu 4,8% este ano, nas contas do Departamento Econômico do Bradesco. Taxa que é o dobro da registrada em 2004 de 2,4%.

O emprego com carteira assinada, que ficou parado de setembro para outubro, continuou a mostrar reação frente a 2004. Segundo Ávila, é o nono mês seguido em que as vagas formais crescem mais que as sem carteira assinada:

¿ E o número dos que trabalham por conta própria, emprego sem proteção, cai há quatro meses seguidos. É um dado positivo, sem dúvida ¿ diz Ávila.

Saboia acredita que o Banco Central errou na dose de juros altos e combaliu demais a economia, atingindo o mercado de trabalho.

¿ Vamos crescer menos de 3%, quase a metade da expansão de 2004 (que foi de 4,9%). Os juros reais estão em 13% ao ano. Isso é altíssimo ¿ reclama o economista.

O comércio, setor onde se esperava mais abertura de vagas para as vendas do Natal, mostrou pouco vigor em outubro. Foram mais 51 mil ocupados no setor, uma alta de 2,1% frente a setembro.