Título: DESASTRE AMBIENTAL NA CHINA
Autor: Gilberto Scofield
Fonte: O Globo, 25/11/2005, O Mundo, p. 33

Vazamento de benzeno contamina rio, deixa quatro milhões sem água e atinge Rússia

Uma explosão na indústria química 101, da companhia PetroChina, na cidade de Jilin, causou um vazamento de benzeno (substância altamente cancerígena) nas águas do Rio Songhua, nordeste da China, num dos maiores desastres ecológicos do país, e que atinge a Rússia e ameaça até mesmo as relações com Moscou. O benzeno já poluiu uma extensão de 80 quilômetros do rio, obrigando Harbin ¿ capital da província de Heilongjiang e uma das maiores cidades do país ¿ a suspender o abastecimento de água por tempo indeterminado, o que afeta mais de quatro milhões de pessoas.

Na Rússia, autoridades da cidade de Khabarovsk, na fronteira com a China e banhada pelo Songhua (que ali passa a se chamar Amur), decretaram estado de emergência e já avisaram que o fornecimento de água também será interrompido. Os governos dos dois países criaram uma linha telefônica direta para monitorar o avanço da gigantesca mancha de benzeno, mas fontes não-oficiais disseram que Moscou vai pedir explicações e possivelmente compensações a Pequim.

O motivo é que só anteontem ¿ dez dias após a explosão na fábrica ¿ Pequim admitiu a gravidade do vazamento. Até quarta-feira, o governo dizia que a suspensão do fornecimento de água, iniciada naquele dia, era uma ¿atividade de rotina para medir a qualidade das águas do rio¿. A qualidade da água mal foi afetada pela explosão¿, afirmou o governo de Jilin, em comunicado repetido por autoridades ambientais de Harbin, enquanto a Companhia de Suprimento de Água da cidade se mantinha em silêncio.

População reage com indignação

Só anteontem a Agência de Proteção Ambiental da China informou que a contaminação do Songhua é grave, com níveis de benzeno 108 vezes acima daqueles considerados seguros. A imensa mancha avança e ontem atingiu a parte do rio de onde Harbin retira água para consumo. Moradores da ficaram em pânico e houve corrida a supermercados. Já não há água potável e caminhões-pipa estão sendo enviados, numa operação controlada por enormes efetivos da polícia.

A população de Harbin reagiu com indignação. Muitos reclamaram que o governo deveria ter avisado sobre o perigo logo após o vazamento. No mercado negro, o preço de uma garrafa de água está dez vezes maior e houve tumulto em volta dos carros-pipa. Aeroportos e estações de trem ficaram lotados de pessoas que tentavam sair da cidade e escolas estarão fechadas até 30 de novembro.

Shi Wenqing, vice-prefeito de Harbin, disse que o governo estava armazenando água de cidades vizinhas e que 20 milhões de litros foram enviados. Além disso, o município conseguiu um equipamento da empresa petrolífera Daqing Oil Field para furar cem poços. Pelo menos dez hospitais estão de prontidão para tratar de casos de envenenamento por benzeno.

Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, Harbin precisa de 1.400 toneladas de carbono ativo, substância capaz de purificar a água. Mas o governo tem até agora metade dessa quantidade, motivo pelo qual a Rússia entrou em alerta.

O Songhua tem 1.927 quilômetros de extensão no nordeste da China e nenhuma outra cidade ao longo de seu trajeto anunciou a suspensão do fornecimento de água. Segundo o governo, o motivo é que somente Harbin é abastecida pelo Songhua. As outras cidades usariam outras fontes em terra ou outros rios.

Zhang Lanying, diretor do Instituto de Recursos Ambientais da Universidade de Jilin, disse que o benzeno não se dilui na água e pessoas que o ingerirem em grande quantidade poderão ter câncer, hepatite e doenças urinárias. Jornais chineses estão evitando mostrar imagens de peixes e plantas mortos. Fotos do desastre estão sendo distribuídas por agências internacionais de notícias. Não se sabe exatamente o prejuízo até agora. O governo informou que dez milhões de yuans (R$2,8 milhões) foram destinados a um fundo de emergência e um milhão (R$280 mil) à população carente para a compra de água.

Dirigentes do Partido Comunista em Jilin e a PetroChina pediram ontem desculpas à população. Em 13 de novembro, quando houve a explosão na indústria 101, fabricante de benzeno, cinco pessoas morreram e pelo menos dez mil moradores da região foram obrigados a fugir da fumaça amarelada resultante do acidente.

www.oglobo.com.br/ciencia