Título: CORTE INDICIA PINOCHET POR DESAPARECIMENTOS
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Fonte: O Globo, 25/11/2005, O Mundo, p. 34

Ex-ditador é posto sob prisão domiciliar pela segunda vez em dois dias, horas após ter fiança confirmada

SANTIAGO. Horas depois de ser beneficiado por uma decisão judicial que confirmou sua liberdade sob fiança e de ter o valor dela reduzido à metade (para US$11,5 mil), o ex-ditador chileno Augusto Pinochet teve novamente sua prisão domiciliar decretada ontem pelo desaparecimento de três opositores de seu regime em 1974. Foi a segunda vez em dois dias que Pinochet, que completa hoje 90 anos, sofreu um revés na Justiça.

A decisão do juiz Victor Montiglio é relativa aos desaparecimentos dos irmãos Carlos e Aldo Pérez Vargas e de Bernardo Castro na chamada Operação Colombo, em 1974. Os três militavam num movimento de esquerda e seus corpos até hoje não foram encontrados. Segundo movimentos de defesa dos direitos humanos chilenos, 119 opositores foram assassinados na Operação Colombo e o regime plantou notícias falsas nas imprensas do Brasil e da Argentina em 1975, para fazer parecer que eles morreram em lutas internas de suas organizações.

O magistrado indiciou Pinochet ¿ que governou o Chile com mão-de-ferro entre 1973 e 1990, período em que mais de três mil pessoas foram mortas a mando do regime ¿ após submetê-lo a um interrogatório, a exames médicos e a uma acareação com o general Manuel Contreras, ex-chefe da Dina, a polícia política da ditadura. Pinochet perdeu sua imunidade em relação à Operação Colombo em setembro.

Famílias pedem reabertura de processos na Justiça

Na segunda-feira, os advogados Hernán Quezada e Boris Paredes tinham pedido à Justiça que Pinochet fosse processado por sua responsabilidade pelo desaparecimento de 15 pessoas. Anteontem, o general fora indiciado por fraude, uso de documentos falsos e passaporte forjado, evasão de divisas, sonegação de impostos e por esconder US$27 milhões em bancos internacionais. Nos últimos cinco anos, o ex-ditador foi indiciado em dois outros casos de abusos de direitos humanos, mas acabou escapando de punição porque a Justiça considerou-o inapto mentalmente para ser submetido a julgamento.

Ontem, o Agrupamento de Familiares de Presos Desaparecidos solicitou à Suprema Corte a revisão dos processos judiciais de que Pinochet foi livrado por questões de saúde. Segundo Lorena Pizarro, presidente do grupo, as últimas decisões da Justiça indicam que o general pode ser julgado.

¿ Estamos há muitos anos nessa luta e vamos continuar. Nunca vamos aceitar uma resposta que signifique impunidade. Fazemos isto por nossas famílias, por nosso país.