Título: OMS: 29% DAS PAULISTANAS AGREDIDAS
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Fonte: O Globo, 25/11/2005, O Mundo, p. 34

Relatório mundial mostra uma vítima de violência doméstica a cada 18 segundos

GENEBRA. A cada 18 segundos uma mulher é agredida no mundo, revela um relatório da Organização Mundial de Saúde sobre violência doméstica, apresentado ontem em Genebra. O estudo ouviu 24 mil mulheres em dez países e mostra que, no Brasil, 29% das paulistanas com parceiros regulares e 37% das pernambucanas da Zona da Mata já sofreram abuso físico ou sexual.

O levantamento para o relatório ¿A saúde da mulher e a violência doméstica¿ foi realizado, além do Brasil, em regiões de Bangladesh, Etiópia, Japão, Namíbia, Peru, Samoa, Sérvia e Montenegro, Tailândia e Tanzânia. Ele mostra que uma em cada seis mulheres já foram vítimas de abusos, o que as deixa mais suscetíveis a problemas de saúde e a tentativas de suicídio. Pais, maridos e namorados são os principais agressores.

¿ As mulheres correm mais risco de sofrerem violência de conhecidos, em casa, do que de estranhos, na rua. Há uma idéia de que a casa é um local seguro e que a gravidez é um período de proteção, mas não é isso o que ocorre ¿ informou o diretor-geral da OMS, Lee Jong-Wook.

As japonesas são as que menos agressão sofreram, cerca de 4% no ano passado, enquanto na Etiópia o índice chega a 54%. Entre 4% e 12% das mulheres que engravidaram foram agredidas durante esse período ¿ 90% pelo pai da criança.

No Brasil, os pesquisadores entrevistaram 1.172 mulheres em São Paulo e 1.473 em Pernambuco, de 15 a 49 anos. Das pernambucanas que sofreram violência física ou sexual, 78% não procuraram ajuda. Segundo a pesquisa, quanto mais jovem uma mulher era ao ter sua primeira experiência sexual, maior o risco de que o ato tenha sido forçado.

Entre as vítimas de violência física, 40% em São Paulo e 37% em Pernambuco admitiram terem sofrido de cortes a perfuração dos tímpanos e queimaduras. Uma em cada três teve que ser hospitalizada.

Em São Paulo, 25% das entrevistadas sofreram violência física ou sexual a partir dos 15 anos, enquanto 12% sofreram antes dessa idade.

O estudo no Brasil foi conduzido por integrantes das Faculdades de Medicina da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de Pernambuco e do grupo SOS Corpo, Gênero e Cidadania Recife, e outras instituições. As informações foram coletadas entre 2000 e 2001.

A agência da ONU acredita que para uma mudança de comportamento são necessários programas de educação, além de treinamento de profissionais de saúde e policiais para investigar sinais de maus tratos.

¿ Seja uma mulher cosmopolita no Brasil ou no Japão, ou uma camponesa na Etiópia ou no Peru, a associação entre violência e pobreza permanece ¿ disse Claudia Garcia-Moreno, coordenadora do estudo.

A agressão pode ser desencadeada por um jantar atrasado, desobediência ou recusa ao sexo. Em muitos casos, a mulher vê a agressão como algo normal.

¿ Fazem falta mais denúncias concretas, programas de ação e centros de trabalho ¿ disse Elena Salgado, ministra da Saúde da Espanha e presidente da 59ª Assembléia Mundial de Saúde.