Título: Xadrez político
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 27/11/2005, O GLOBO, p. 2

Há alguns meses era unânime que o Congresso derrubaria a verticalização. Mas na quarta-feira, quando a emenda deveria ser votada na Câmara, tudo indicava que ela seria derrotada no plenário. Seus defensores tremeram e conseguiram adiar a votação para esta terça-feira. A crise política e o quadro sucessório nacional e nos estados fizeram com que diversos partidos mudassem de posição.

Quando a proposta saiu do Senado havia um acordo entre os presidentes do PMDB, do PFL, do PSDB e do PT para derrubar a verticalização. Mas a antiga direção do PT caiu e o PSDB passou a trabalhar contra a emenda ao perceber que ela poderia favorecer a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há três semanas apenas os presidentes do PMDB e do PFL lutavam para aprová-la. A razão do PMDB é conhecida: viabilizar uma candidatura própria à Presidência. Pelo PFL, fala o líder no Senado, José Agripino (RN):

¿ Temos que ter liberdade para fazer coligações nos estados. Não podemos ficar amarrados apenas ao PSDB. Queremos eleger uma bancada expressiva.

Mas não foram apenas o PT e o PSDB que mudaram. Os médios partidos também reciclaram suas posições. O PP, o PL e o PTB, que juntos têm uma bancada de 150 deputados, também queriam acabar com a verticalização, regra pela qual os partidos tem que fazer nos estados as mesmas coligações que fizeram nas eleições para presidente. Mas com o início dos entendimentos para as eleições nos governos estaduais eles perceberam que a verticalização os favorecia. Ocorre que os partidos que disputam o poder na maioria dos estados são o PMDB, o PSDB, o PT e o PFL. Sendo assim, os partidos que tiverem candidatos a presidente diferentes não poderão se unir nos estados. Esse fato aumenta o cacife dos parlamentares do PP, do PL e do PTB nos estados. O apoio desses partidos (e seus minutos no horário de propaganda eleitoral na televisão), os únicos livres, desde que não tenham candidato a presidente, é disputado a peso de ouro pelos quatro grandes partidos. Para estes três partidos, o importante agora é aliar-se aos melhores candidatos nos estados. Assim, criam condições para eleger bancadas de 50 deputados, o que vai lhes garantir um peso no jogo do poder nacional.

O pragmatismo dividiu a maioria dos partidos. Ficou mais difícil conseguir os 308 votos necessários para aprovar a emenda que acaba com a verticalização.