Título: Rombo pode ter o dedo de mega-fraudador
Autor: Chico Otavio e Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 27/11/2005, O País, p. 12

Diretoria da caixa de pensão do sistema nuclear contratará auditoria para analisar sua carteira de debêntures

RIO e BRASÍLIA. Considerado um dos maiores fraudadores da história da Previdência e da Receita Federal, o argentino Cezar de La Cruz Arrieta pode estar operando com os fundos de pensão das estatais federais no atual governo. Na lista de investimentos suspeitos apurados no Núcleos, caixa de pensão dos funcionários do sistema nuclear, aparece um total de R$29 milhões em aplicações entre 2003 e 2004 na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), beneficiada no passado por depósitos milionários feitos por Arrieta.

A atual diretoria do Núcleos anunciou que contratará uma auditoria externa para analisar a carteira de debêntures ¿ títulos pelos quais as empresas conseguem empréstimos no mercado de capitais ¿ do fundo. De um total de R$148,8 milhões em operações suspeitas patrocinadas pela gestão anterior, que tinha à frente o presidente Paulo Figueiredo, R$90 milhões corresponderam a papéis comprados da Ulbra.

Núcleos fez cinco operações com Ulbra

Nos arquivos do Núcleos há pouca informação sobre o investimento. De acordo com as planilhas, sabe-se apenas que o fundo fez cinco operações com a universidade. Em 13 de novembro de 2003, comprou R$4.039.000,00 em debêntures da Ulbra. No dia 12 do mês seguinte, adquiriu mais R$3,048 milhões. No ano seguinte, foram fechadas mais três operações: dia 15 de janeiro, R$7,083 milhões; dia 30 de abril, R$774 mil; e dia 24 de agosto, R$10,038 milhões.

Na carteira de debêntures do Núcleos aparecem mais duas empresas ligadas a Arrieta, a Zivi e a Hercules, ambas do setor de cutelaria, e gaúchas, como a Ulbra. Os atuais gestores informam, contudo, que são operações mais antigas, dos anos 90.

Um dos esquemas de fraude montado por Arrieta era usar falsos créditos de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), da empresa Vale Couros, para compensar débitos de outras empresas inadimplentes. De acordo com investigações da Receita Federal e da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, a Ulbra foi uma das favorecidas com a fraude, quitando pelo esquema mais de R$8 milhões.

A ligação mais forte, porém, aparece em outra operação. A SRS, firma da mulher de Arrieta, Sônia Soder, emprestou à Ulbra R$18 milhões, entre 2002 e 2003. Os investigadores sustentam que a transação era uma forma de lavar dinheiro, fazendo de Arrieta o proprietário oculto da Ulbra, como demonstram relatórios em poder do Ministério Público Federal gaúcho.