Título: NO GOVERNO, PROJETO DO PT FICOU LIBERAL
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 27/11/2005, Economia, p. 35

O programa do PT não é o do governo, sobretudo em relação à proposta de desenvolvimento do país, à qual a estabilidade econômica deveria estar subordinada. A avaliação é de Ricardo Carneiro, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), para quem o presidente Lula optou por um projeto liberal clássico, em que a busca da estabilidade é a prioridade, em vez do crescimento.

¿ É diferente daqueles políticos que prometem mais do que podem cumprir. Houve uma mudança de orientação ¿ afirma.

Carneiro colaborou com o PT desde o início dos anos 90. Diz que o seu programa não tem relação com a ¿Carta ao povo brasileiro¿, elaborada pela cúpula poucos meses antes das eleições e inspiradora da atual política econômica. A mudança de orientação, afirma, aconteceu depois que o então prefeito de Santo André, Celso Daniel, morreu e Antonio Palocci ocupou o lugar dele no partido.

¿ O governo, mais esperto que os militantes ingênuos da causa socialista, atuou em bases realistas, como seria de se esperar, e o partido foi obrigado a engolir em seco tudo aquilo que antes abominava ¿ analisa o sociólogo Paulo Roberto de Almeida.

Entre as propostas vencidas e vencedoras estão: orçamento elástico versus responsabilidade fiscal; crescimento máximo contra metas de inflação; limitação constitucional versus juros de mercado.

Segundo ele, as mudanças de orientação do PT foram ocorrendo ao longo da vida. Na Constituinte de 1988 o partido defendeu a estatização do sistema financeiro, mas não manteve essa proposta no programa eleitoral de 1989.

¿ Em 2002, num ambiente econômico explosivo, a carta reafirmou o que está no programa do partido, só que com cores menos fortes ¿ avalia o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini.