Título: PROGRAMAS DE PARTIDOS APOSTAM EM CORTE DE JUROS
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 27/11/2005, Economia, p. 35

Debate de propostas para eleições de 2006 começa concentrado em opções para elevar o crescimento econômico

O ano eleitoral ainda não começou, mas os principais partidos já estão organizando convenções para escolher equipes e elaborar programas que irão conduzi-los nas eleições gerais de 2006. Considerada o principal pilar de sustentação do governo, a política econômica está no centro do debate, aquecido pela polêmica em torno do superávit primário (receitas menos despesas, sem contar o gasto com juros). A briga entre os ministros de Lula estimula a oposição a formular alternativas, entre as quais há consenso sobre a necessidade de reduzir juros e elevar o crescimento.

Os dirigentes dos cinco partidos consultados, entre eles o PT, informam que estão começando a debater as idéias que serão levadas aos diretórios dos seus partidos, para compor os programas eleitorais de 2006. Todas elas incluem o aumento do crescimento como princípio e variam na forma como cada um pretende alcançar este objetivo.

¿ De maneira geral, o pragmatismo substituiu o discurso mais ideológico, contra a globalização capitalista e os lucros desmedidos ¿ analisa o sociólogo Paulo Roberto de Almeida.

Segundo ele, isso deve abrir espaço para a discussão da eficiência da gestão pública e do combate à corrupção. Para o economista Ricardo Carneiro, da Universidade de Campinas (Unicamp), o debate está concentrado na gestão da política econômica de curto prazo, que deveria ser secundária em relação a um projeto de desenvolvimento de longo prazo para o país.

Berzoini defende superávit de no máximo 4,25%

Ricardo Berzoini, presidente do PT, defende a manutenção das metas de inflação e um programa de financiamento do crescimento. E se alinha à ministra Dilma Rousseff contra um superávit primário superior a 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas geradas no país), como o que está sendo produzido pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

¿ O debate no PT ainda está sendo iniciado, a partir de conversas com o próprio governo. Nosso balanço do conjunto de indicadores econômicos é positivo. A partir dessas conquistas, queremos estabelecer o processo de financiamento do crescimento, com investimentos em saneamento e habitação ¿ afirma Berzoini.

Já Alberto Goldman, presidente do principal partido de oposição, o PSDB, diz ter muitas críticas à política econômica. Ele trabalha na revisão do programa da legenda, mas lamenta ainda não ter formulado uma proposta alternativa à do governo. Defende a manutenção das metas de inflação e uma queda mais agressiva dos juros, combinadas com redução de gastos correntes.

O PFL propõe redução de impostos e corte expressivo da despesa pública. O ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause, que coordenou a revisão das propostas do partido, é duro nas críticas:

¿ Lamentavelmente, essa discussão no governo não é séria. Não tem nada a ver com um projeto de desenvolvimento, até porque hoje quem financia o investimento é o setor privado. Querem é uma folia de gastos para financiar a campanha ¿ disse ele.

PFL defende reforma do Estado brasileiro

Krause defende a reforma do Estado, trabalhista e tributária. Para ele, a proposta de ajuste fiscal de longo prazo, feita por Palocci, merecia mais respeito dos demais membros do governo, mas acha que o ministro já perdeu esta briga:

¿ O prazo de validade do ministro Palocci já expirou. Ele já caiu ¿ acrescentou.

à frente da elaboração das propostas do PMDB, o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa acredita ter chances de reviver os bons tempos em que o seu partido atuava como a grande frente da esquerda contra a ditadura militar.

¿ De novo é necessário o MDB para voltar às origens da social democracia. Temos que pensar o desenvolvimento. Nós removemos o entulho autoritário do país e agora temos que remover o entulho neoliberal ¿ afirmou.

Em dois meses, Lessa realizou seis reuniões em diversos estados para apresentar suas idéias a grupos de até cinco mil pessoas. Ele quer unir o partido em torno de propostas como a redução ou eliminação do superávit primário e do controle de capitais estrangeiros. Para ele, a meta de inflação deve ser subordinada à geração de emprego.

¿ O Brasil tem que crescer pelo menos 5% ao ano para fazer frente ao estoque de mais de 22 milhões brasileiros no desemprego ou no subemprego. O governo gasta R$145 bilhões com juros da dívida pública. Já o Bolsa Família, maior seu programa social, é de R$7 bilhões ¿ acrescentou Lessa.

Junto com o PMDB, o P-SOL também apresenta idéias mais radicais de mudanças na política econômica. Milton Temer, membro da executiva nacional, destaca duas frentes de ação: o fim dos elevados ganhos financeiros e da abertura ao capital internacional.

¿ O sistema financeiro não pode continuar controlando o Banco Central ¿ diz ele.

Temer defende uma reforma agrária radical, que mude inclusive a relação entre população rural e urbana. Segundo ele, a diminuição das populações das cidades teria ainda o efeito positivo de diminuir a violência.

¿ Não estou defendendo nenhum regime socialista, mas uma economia soberana e democrática.