Título: ANALISTAS: `INVESTMENT GRADE¿ EM 2009
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 27/11/2005, Economia, p. 35

Especialistas dizem que indicadores são bons, mas é preciso melhorar

BRASÍLIA. O Brasil está cada vez mais perto do cobiçado grau de investimento (investment grade). A nota ¿ que significa uma recomendação de investimento pelas agências de classificação de risco ¿ pode aumentar significativamente a entrada de recursos no país e impulsionar o crescimento. Segundo estudo realizado pela consultoria GRC Visão, caso o Brasil continue trabalhando para melhorar indicadores econômicos como a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas no país), mantenha a austeridade fiscal e dê andamento a projetos como a reforma tributária, o grau de investimento poderia chegar em 2009. Essa data confere com as expectativas médias do mercado.

Jason Vieira, economista da GRC Visão, lembra que o Brasil fez avanços importantes. Entre eles, a queda na relação dívida/PIB de 57% em dezembro de 2003 para 51% em setembro deste ano. Além disso, a inflação está sob controle e o déficit nominal (diferença entre receitas e despesas no ano, incluindo os gastos com juros do endividamento), que em 2003 foi de 5,08% do PIB, ficou em 2,37% do PIB no mesmo período este ano. Mas ainda é preciso trabalhar mais:

¿ O crescimento ainda não é tão consistente, a dívida pública tem um prazo muito curto e faltam regras claras para investimentos em infra-estrutura. Além disso, o Brasil precisa fazer a reforma tributária e melhorar as contas da previdência.

Essa também é a avaliação do diretor-executivo da agência de classificação de risco Fitch no Brasil, Rafael Guedes:

¿ O Brasil ainda precisa fazer essas reformas.

Ele não arrisca uma data, mas lembra que, pela Fitch, o Brasil está hoje a apenas três graus do investment grade. O diretor da Fitch também alerta para o fato de que o país precisa manter a austeridade fiscal para conseguir melhorar sua classificação.

Analistas defendem manutenção do superávit

Esse é o centro do conflito entre a equipe econômica e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Enquanto os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, defendem a manutenção de um superávit primário alto a longo prazo, Dilma quer elevar os gastos.

¿ Enquanto a discussão continuar respeitando a meta de 4,25% do PIB, está tudo bem ¿ afirma Guedes.

Já a presidente da Standard & Poor¿s no Brasil, Regina Nunes, elogia a política econômica do Brasil e afirma que, caso alguns pontos avancem mais, o país pode chegar ao grau de investimento antes mesmo de 2009. Para isso, além de manter o superávit primário em 4,25% do PIB, o governo terá de aprender a gastar melhor, focando em infra-estrutura, saúde e educação.

Segundo Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, o ajuste fiscal é parte importante da imagem que o Brasil tem junto às agências. Para a LCA, o grau de investimento deve chega para o Brasil em 2010, mas se o plano fiscal de longo prazo da equipe econômica fosse adotado, chegaria antes.

O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, também aposta que o grau de investimento chegará em 2010. Guilherme Maia, economista da consultoria Tendências, prevê que o Brasil chegue ao grau de investimento em 2010. Já a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, é mais otimista e acredita que a data será 2008.

COLABOROU Patrícia Duarte