Título: MIL MULHERES CANDIDATAS AO NOBEL
Autor: Flávio Henrique Lino
Fonte: O Globo, 27/11/2005, O Mundo, p. 43

Campanha não levou prêmio, mas se articula para continuar trabalho de mobilização

Eram mil mulheres candidatas ao Prêmio Nobel da Paz de 2005. Não ganharam, mas as representantes de mais de 150 países chamaram a atenção para o trabalho que mulheres de todo o mundo realizam em favor da paz, tanto nas mesas de negociações de conflitos armados como nas mais prosaicas tarefas do dia-a-dia.

Iniciada em 2003 pela deputada suíça Ruth-Gaby Vermot-Mangold a partir da Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU, a campanha ressaltou o fato de que desde sua criação em 1901, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido a apenas 12 mulheres. ¿Também nas conversações de paz há ainda muito mais senhores da guerra do que damas de paz a decidir sobre a segurança, a reconstrução e as novas estruturas políticas¿, aponta o site da campanha, que vai se transformar numa associação.

¿ A luta continua. Agora o esforço é dar continuidade ao trabalho de mobilização das mulheres contra os conflitos armados, a fome, a miséria, tudo que degrada o homem ¿ explica Clara Charf, coordenadora da campanha no Brasil.

Das mil mulheres, 52 eram brasileiras, entre elas Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança, a ministra Marina Silva, a arqueóloga Niède Guidon, a atriz Ruth de Souza e a escritora Ana Maria Machado, além de outras menos conhecidas como a sindicalista Creuza Oliveira e a líder quilombola Procópia Rosa. A idéia era ter um painel representativo da sociedade e, por isso, o conceito de conflito foi ampliado para além dos confrontos bélicos.

¿ As guerras chamam mais atenção, mas há outros tipos de conflitos que ameaçam a segurança do homem, como a violência, a fome, o analfabetismo, a falta de habitações, as violações de direitos humanos, as relações entre os países. Todas as lutas que garantam a segurança do homem são lutas pela paz ¿ diz Clara Charf.

A campanha vai publicar agora um livro com os perfis das mil mulheres indicadas e um grupo de acadêmicos vai analisar estratégias, métodos e resultados do trabalho delas. Para a deputada Ruth-Gaby Vermot-Mangold, o fato de a campanha não ter levado o Nobel foi uma frustração, mas ela ressalta que o esforço valeu a pena assim mesmo: ¿Estamos orgulhosas de que em menos de três anos atraímos atenção ao surpreendente trabalho realizado por essas mulheres na causa da promoção da paz¿. (F.H.L.)