Título: FILAS NO INSS: AGORA O DESENCONTRO É INTERNO
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 26/11/2005, O País, p. 14

Ministro tenta consertar desmentido a Lula, mas presidente do instituto diz que é impossível acabar com elas

BRASÍLIA. Um dia depois de contradizer publicamente o presidente sobre o fim das filas no INSS, o ministro da Previdência, Nelson Machado, tentou ontem desfazer o constrangimento de ter desmentido Lula durante uma entrevista a emissoras de rádio. Machado alegou que até abril os usuários do serviço não vão mais precisar esperar tanto para serem atendidos nos postos do INSS. Mas o discurso do governo ainda não está totalmente afinado. Ontem, o presidente do INSS, Waldir Moysés Simão, disse que não há como acabar com as filas em todos os postos. Mas afirmou que há um esforço para reduzir o tempo de espera dos usuários.

¿ É complicado assegurar que não tenha mais fila em 100% das agências. Pode ser que em algumas seja possível. Mas acredito que dê para melhorar o atendimento até abril. A gente quer reduzir o tempo de espera ainda no governo Lula ¿ explicou Simão.

Machado: `Entrevista foi mal interpretada¿

O ministro chegou a admitir que continuará havendo espera para o atendimento, embora o tempo seja reduzido. Mas recusou-se a chamar isso de fila e preferiu utilizar o termo ¿ordenamento do processo de trabalho¿. Ele disse ainda que a entrevista de anteontem foi mal interpretada pelos jornalistas.

¿ As filas são uma forma de organizar o processo de trabalho. Se você for ao cinema, tem que ter fila para ficar organizado. Nesse sentido de organização, fila não acaba nunca. O problema no INSS é o tempo que se espera. É um tipo de fila inumano e vamos acabar com isso até março, abril. Vamos acabar com essa coisa de pessoas esperando desde a madrugada do lado de fora das agências, isso eu posso garantir. Esse é um compromisso que assumi com o presidente quando fui nomeado ministro ¿ afirmou Machado.

Para tentar reduzir as filas, a Previdência Social inaugurou ontem o Programa de Gestão do Atendimento. A primeira etapa será realizada em São Paulo, em agências da capital e de Guarulhos, Santo André, São José dos Campos e Sorocaba, com o treinamento de 534 servidores.

O programa prevê a ampliação da capacidade de atendimento das agências, melhor treinamento para funcionários e redirecionamento de serviços que podem ser resolvidas por telefone ou internet. Também deverão ser trocados até fevereiro os computadores de todas as agências, para que eventuais defeitos nas máquinas não prejudiquem a agilidade do serviço.

INSS chama 450 novos atendentes em janeiro

A partir de janeiro, deverão ser chamados para treinamento mais 450 atendentes aprovados no último concurso público realizado para a função. Um novo concurso selecionará 1.500 médicos peritos. Esses profissionais substituirão os dois mil que trabalham hoje de forma terceirizada, sem dedicação integral. Atualmente, os médicos peritos do INSS estão em greve em São Paulo, o que prejudicou o atendimento nas agências.

O INSS informou que não dispõe de estatísticas sobre os processos parados por falta de estrutura ou sobre o tempo médio de tramitação de um procedimento, desde o início do processo até sua conclusão. Segundo o presidente do órgão, as maiores filas estão em agências de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador.

Ex-ministro da Previdência, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, afirmou que é possível acabar com as filas nos postos do INSS.

¿ É preciso fazer um investimento grande em tecnologia, reciclagem e novas contratações de pessoal para o atendimento. As filas do INSS decorrem de um grande afluxo de pessoas às agências e do tipo de clientela, que tem dificuldade normalmente de acessar o auto-atendimento via internet ¿ disse Berzoini.

Mas, perguntado se era possível acabar com as filas até abril, como Lula prometeu, Berzoini saiu pela tangente:

¿ Não estou (mais no ministério). Qualquer opinião seria leviana.

COLABORARAM: Luiza Damé e Cristiane Jungblut