Título: RENDA DOS RICOS CAI, GANHO DOS POBRES SOBE E DESIGUALDADE FICA MENOR NO PAÍS
Autor: Flávia Oliveira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/11/2005, Economia, p. 36

Índice de Gini, que mede a concentração, tem o melhor grau desde 1981

A mazela secular do Brasil deu em 2004 mais um sinal de que começa a sucumbir. O Índice de Gini, que mede o grau de desigualdade de renda, apresentou no ano passado seu mais baixo resultado desde 1981 ¿ foi o terceiro recorde seguido. Dessa vez, no entanto, a concentração de riqueza diminuiu porque houve aumento na renda dos mais pobres e queda no ganho dos ricos. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, a distribuição melhorara pelo recuo generalizado nos rendimentos.

Num resultado que varia de zero a um ¿ e quanto mais perto de um, maior a desigualdade de renda ¿ o Gini caiu de 0,554 para 0,547 entre 2003 e 2004. O ganho de renda da metade mais pobre dos trabalhadores e a redução do número de domicílios sem qualquer rendimento deve fazer os índices de pobreza caírem fortemente também, já anunciam os especialistas.

O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), antecipa que a queda da pobreza em 2004 será ¿espetacular¿. Segundo ele, a redução da desigualdade no nível registrado no ano passado tem na diminuição de pobreza o dobro do impacto de uma expansão de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país). Em 2003, Neri foi o primeiro a calcular o índice de indigência, que, em razão da retração econômica, aumentou para 27,26%, contra 26,23% em 2002.

¿ A queda da desigualdade é um fato raro na história do Brasil. Fico entusiasmado especialmente porque é a segunda queda consecutiva. Ou seja, pode ser que nossa desigualdade inercial esteja começando a ceder. Acho que isso tem a ver com os programas sociais ¿ diz Neri.

Melhorias por causa de programas sociais

Marcelo Medeiros, economista do Centro Mundial de Pobreza da ONU, é outro que prevê queda na proporção de pobres:

¿ O tipo de crescimento que o Brasil optou por ter, fortemente exportador, não favorece os extremamente pobres. Portanto, as melhorias estão acontecendo por causa dos programas sociais, que aumentaram e têm foco nos 30% mais pobres, embora ainda não sejam suficientes.

Mas a renda do trabalho também fez diferença para a redução da desigualdade. A Pnad mostrou que só os 10% mais ricos tiveram perda de renda. Para quem ganha até R$747, a vida melhorou. Foi o caso de Abel Ferreira, de 22 anos, que ficou um mês desempregado antes de se tornar atendente na loja Ponto Fotográfico, onde ganha R$407:

¿ Vim me candidatar a uma vaga de mensageiro, mas, como tenho conhecimentos de informática, acabei sendo contratado como atendente.