Título: PARTICIPAÇÃO FEMININA NO TRABALHO É RECORDE
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/11/2005, Economia, p. 37

Segundo o IBGE, mulheres ocuparam mais de metade dos s postos criados no Brasil durante o ano passado

Nunca a participação feminina no mercado de trabalho foi tão forte quanto em 2004. De cada cem mulheres com dez anos ou mais de idade, 45 estavam trabalhando, um patamar recorde. Mudanças culturais e demográficas ¿ como a redução no número de filhos, a maior instrução feminina e o envelhecimento da população ¿ estão por trás desse avanço nas últimas décadas. Entretanto, nos anos mais recentes, a queda na renda das famílias empurrou mais mulheres para o mercado de trabalho, na tentativa de complementar os ganhos de pais, maridos e filhos.

Dos 2,7 milhões de postos de trabalho criados em 2004, 1,5 milhão foi ocupado por mulheres. Mais instruídas que os homens ¿ 40% tinham ao menos o ensino médio, contra 29,2% da força de trabalho masculina ¿ elas ainda ganham menos e são minoria nos cargos de chefia. É o que conta a engenheira Manzar Feres, executiva da Divisão de Consultoria da IBM:

¿ Quando entrei no mercado, há 20 anos, trabalhava quase a semana inteira apenas com homens. Hoje, as equipes são meio a meio, mas nas funções executivas ainda são muito masculinas. Felizmente, o ambiente hoje é propício, porque elas sabem balancear muito bem a vida pessoal e a profissional.

A diferença salarial também é flagrante. Em 2004, segundo o IBGE, as mulheres recebiam em média R$579 por mês, equivalentes a 69,5% dos salários dos homens (R$835). Mas 11 anos atrás, a proporção estava em 59%: R$470 contra R$796.

A professora de inglês Alessandra Castinheiras adiou os planos de mestrado porque estudar mais significaria reduzir sua carga horária e, por tabela, sua renda. Alessandra, que leciona em dois colégios da rede particular do Rio, cumpre 43 horas de aulas por semana.

¿ Mas ainda há as correções de provas e as reuniões de professores. São pelo menos 12 horas por dia ¿ conta.

A economista Hildete Pereira de Melo, da UFF, destaca que a inserção da mulher no mundo do trabalho ocorreu de forma precária ¿ e isso aparece no recorde atual de participação feminina. Elas hoje têm menos filhos ¿ a média de 3,5 em 1984 caiu para 2,1 em 2004 ¿ mas as pioneiras no mercado estão chegando agora à idade de se aposentar.

¿ Muitas entraram no mercado de forma intermitente, por causa dos filhos. Por isso, não conseguem se aposentar e precisam trabalhar para garantir ou complementar a renda familiar, já que os ganhos médios do brasileiro caíram muito nos últimos anos ¿ diz Hildete.