Título: NO NORDESTE, DE NOVO AS PIORES CONDIÇÕES
Autor: Ismael Machado e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/11/2005, Economia, p. 39

Coleta de lixo atinge apenas 69,8% dos municípios e saneamento, 45,4%

RIO e RECIFE. Nem mesmo a inclusão do Norte rural na pesquisa do IBGE ¿ uma das áreas mais pobres do país ¿ tirou o Nordeste da lanterninha de alguns indicadores sociais e econômicos do Brasil. A região tem o pior índice de coleta de lixo, com apenas 69,8% dos domicílios atendidos. E o acesso ao saneamento básico só está disponível para 45,4% das moradias.

Não é preciso ir longe para se deparar com a miséria em Pernambuco. Encravada no bairro de Santo Amaro, no centro de Recife, a comunidade de Vila Imperial só tem o nome de majestoso. Barracos de papelão, a lona plástica como teto, vão se empilhando nos escombros de uma antiga revenda de peças para caminhões (Imperial Diesel), que deu nome ao lugar. No Nordeste, 6,2% das habitações são construídas com material não-durável, contra 2,7% na média nacional.

Moradora de Vila Imperial, Raquel Conceição Souza, de 17 anos, tem uma filha de três anos e está prestes a dar à luz mais um bebê. O dinheiro do vale-gás que recebe, de R$30, é usado para pagar o aluguel de um pequeno barraco. O rendimento dos nordestinos é, em média, metade do auferido no Sudeste.

Assim como outros 18,3% dos lares nordestinos, a casa de Raquel não tem TV. A luz elétrica chega graças a uma ligação clandestina, mas é uma ameaça constante de incêndio, especialmente quando chove. Água encanada é um sonho distante, mas o que Raquel mais deseja é uma casa com vaso sanitário:

¿ Faço minhas necessidades num saco plástico e jogo na rua. Os vizinhos lá da frente reclamam, mas não há outro jeito.

Sem geladeira ¿ quase 30% dos lares nordestinos não têm esse bem ¿ Raquel guarda os alimentos fornecidos pela creche da filha numa caixa de papelão.

¿ Se não guardar assim, o rato come. Na verdade, a gente mora com os ratos. Tratamos eles como colegas ¿ ironiza.

As condições sanitárias são tão ruins que Tais Tailane, sua filha, já contraiu hepatite, mas hoje está ¿curada¿.

(*) Especial para O Globo