Título: PNAD DESVENDA A POPULAÇÃO DA REGIÃO NORTE
Autor: Ismael Machado e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 26/11/2005, Economia, p. 39

Pela 1ª vez, pesquisa investiga áreas rurais da Amazônia e descobre famílias menos instruídas e mais numerosas

ANANINDEUA (PA) e RIO. Pela primeira vez em duas décadas de cobertura nacional da Pnad, a Região Norte foi conhecida por completo. Até 2003, apenas as áreas urbanas dos municípios do Norte eram investigadas. Ficavam de fora mais de um quinto da população nortista. Na pesquisa de 2004, o IBGE constatou uma região de maioria parda, com menos instrução, e de famílias mais numerosas do que na média nacional.

Às margens de um esgoto que já foi um córrego limpo, a família de Alberto Araújo Silva, 27 anos, vive espremida em um velho barraco de madeira de apenas um cômodo, na zona rural do município de Ananindeua, no Pará. São cinco pessoas. Além da mulher, Regina, vivem no cômodo apertado e escuro os quatro filhos do casal, incluindo um bebê.

Em média, as famílias do Norte têm quatro moradores, as mais numerosas do país. A região apresenta também a maior taxa de fecundidade do Brasil. As mulheres nortistas têm uma média de 2,8 filhos, enquanto no país inteiro essa taxa é de 2,1. A região tem a segunda pior taxa de analfabetismo do país: 11,7% das pessoas com mais de 10 anos não sabem ler e escrever.

As crianças são mais numerosas, mas também estão fora da escola numa freqüência maior. Na faixa etária de 7 a 14 anos, equivalente à do Ensino Fundamental, obrigatório no país, 5,1% das crianças nortistas não estão estudando, a maior taxa do país.

Para sobreviver, Araújo recorre a pequenos expedientes, como o trabalho em uma oficina de bicicletas que mal garante o sustento diário. Vivendo com menos de um salário-mínimo por mês, a família de Alberto está à parte de qualquer conforto tecnológico. Há um TV em preto e branco, um fogão de duas bocas e uma cama velha. O resto da família dorme em redes. Um ventilador pequeno afasta os mosquitos à noite. Eletrodomésticos são um sonho que passa ao largo da família.

Morando em uma área periférica, a família de Alberto não tem acesso a serviços básicos como saneamento, abastecimento de água e coleta de lixo. No Norte, pouco mais da metade dos domicílios (55,2%) tem acesso à rede de distribuição de água, a menor taxa do Brasil.

¿ A minha preocupação todo dia é ter de botar comida em casa ¿ diz Alberto.

O IBGE também constatou que 71,4% dos nortistas se declaram pardos, enquanto 24% se consideram brancos e 4,2%, pretos. É a região com maior predominância de pardos e com uma fatia dessa população bem superior à média nacional, de 42,1%.