Título: JUROS CAEM POUCO PARA CONSUMIDOR
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 26/11/2005, Economia, p. 40

Dados do Banco Central mostram que taxa média recuou 0,4 ponto em outubro

BRASÍLIA. As recentes reduções na taxa básica de juros, atualmente em 18,5% ao ano, tiveram, até agora, pouco reflexo para o consumidor final. Pesquisa do Banco Central mostra que, em outubro, a taxa média geral de juros cresceu 0,1 ponto percentual em relação a setembro, para 48,2% ao ano. Especificamente para pessoas físicas, a taxa ficou em 61,7% ao ano, com redução de 0,4 ponto no período, e, para empresas, em 33,4% anuais, 0,1 ponto a mais.

¿ Pode-se dizer que o efeito da Selic já começou e a tendência é acelerar ¿ diz o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Luiz Malan.

Nos três últimos meses, o BC reduziu a taxa básica em 1,25 ponto percentual e, na avaliação do mercado, o ritmo de queda deve ser mantido pelos próximos meses.

Nas principais categorias de financiamento, as reduções nos juros voltaram a ocorrer. Depois de subir mais de 6 pontos percentuais em setembro, a taxa dos empréstimos do Crédito Direto ao Consumidor para bens duráveis recuou 0,8 ponto, para 59,1% ao ano. Para Malan, esse cenário já reflete o movimento para vendas de fim de ano. Já no cheque especial, a queda foi de 0,2 ponto, muito pouco diante da taxa média de 148,6% ao ano. Em CDC para veículos, os juros mais baixos, houve recuo de 0,3 ponto no período, para 35,6% anuais.

Inadimplência também cai ligeiramente

As operações de crédito consignado (com desconto em folha de pagamento) fecharam outubro, segundo estimativa do BC, com R$31,002 bilhões, 2,5% a mais do que o mês anterior. Esta é a primeira vez que essa modalidade de crédito é especificada pelo BC, levando em consideração todas as instituições que oferecem o produto, cuja taxa média de juros ficou em 37,2% ao ano, praticamente o mesmo patamar desde maio passado.

¿ Os cortes da Selic ainda são muito pequenos, e o efeito quase não aparece. Mas os bancos também não estão repassando totalmente os spreads (diferença do custo de captação do capital e a taxa efetiva cobrada do consumidor), o que deve acontecer com o crescimento da concorrência ¿ diz o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Oliveira.

Em outubro, o spread bancário cresceu 0,4 ponto percentual, para 29,8 pontos percentuais, devido ao aumento da taxa geral dos financiamentos. A inadimplência das operações de crédito diminuiu um pouco em outubro, ficando em 3,2% do total dos financiamentos, 0,2 ponto percentual a menos que no mês anterior. O BC passou a adotar novo conceito de inadimplência, adequando-se aos padrões internacionais de atraso de pagamento (acima de 90 dias). Até então, o banco tinha como regra acima de 15 dias.

Em novembro, crédito mantém expansão

O volume total de operações de crédito no país, no mês passado, somou R$575,6 bilhões, 2% mais do que em setembro. Levando-se em consideração apenas os créditos com recursos livres (com taxas de juros de mercado), as operações somaram R$330 bilhões, R$6,7 bilhões a mais do que no mês anterior.

Nos dez primeiros dias úteis de novembro, adiantou o executivo, o volume de crédito total já apresenta crescimento de 1,5%, mantendo o pequeno ritmo de expansão.

¿ Talvez o que esteja acontecendo é que estamos atingindo certo limite de endividamento ¿ afirmou Abrígio Rello Júnior, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).