Título: Cessar-fogo a mando do chefe
Autor: Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 29/11/2005, O País, p. 3

Por ordem de Lula, Dilma e Palocci acertam trégua sobre economia e vão tentar ampliar gastos

Depois de semanas de desavenças e de uma cobrança decisiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim de semana, os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciaram ao chefe uma trégua e se comprometeram a não mais tratar publicamente de suas divergências sobre a política econômica. Atendendo à cobrança de Lula, Palocci procurou Dilma no domingo. O presidente convocara os dois para a reunião da coordenação política, ontem de manhã, no Palácio do Planalto.

Palocci, que andou evitando encontros com Dilma, chegou à reunião com nova disposição. Antes de os dois comunicarem formalmente ao presidente que acertaram um procedimento de trabalho e o pacto de não-agressão, Lula entrou na reunião perguntando:

¿ E aí? Tudo acertado? Tudo bem entre vocês?

Foi quando os ministros responderam que tudo estava resolvido e acertado. Além da mudança de comportamento, o acordo prevê um esforço conjunto para o governo gastar o que já está previsto no Orçamento até o fim do ano para tentar diminuir o superávit primário, ontem confirmado pelo Banco Central em 5,97% do PIB nos últimos 12 meses.

Gastos não vão atingir a meta

Já há um entendimento na área econômica e na Casa Civil que, mesmo gastando o que for possível, o superávit vai baixar para algo em torno de 4,6% ou 4,7%, e não à meta de 4,25%. Ainda esta semana Dilma e Palocci participam da reunião da Junta Orçamentária, na qual será anunciado o volume de recursos a ser liberado ainda em dezembro.

O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que a discussão em torno do superávit para 2005 e 2006 não está aberta e que a meta formal de economia do setor público está mantida em 4,25%

¿ O presidente trabalha com compromisso perante a nação e a sua vontade é manter o superávit de sem mudanças nem para cima nem para baixo ¿ afirmou Jaques.

À tarde, o ministro quebrou o silêncio sobre a briga dos colegas e confirmou que eles se acertaram no fim de semana. Wagner disse que os ministros atenderam ao pedido de Lula para que botassem um ponto final nas divergências. Contou ainda que o assunto nem chegou a ser discutido na reunião de coordenação mas, pela postura dos dois, o problema está resolvido.

¿ A reunião foi absolutamente tranqüila. Essa é uma vontade do presidente da República (que não houvesse mais divergências públicas). É bom que a relação dos dois esteja normalizada. Para mim, as divergências são página virada ¿ disse Wagner.

Na verdade, Lula já sabia do entendimento entre Palocci e Dilma desde a véspera. Seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, participou de parte do encontro dos ministros no domingo, na casa de Dilma, quando os dois conversaram abertamente sobre as divergências.

Na reunião, Palocci sentou-se à esquerda de Lula e Dilma, à direita. Wagner disse que Lula gostou da reunião e contou que no encontro foi discutida a realização de uma reunião ministerial na segunda quinzena de dezembro.

¿ O clima não era de abraços, mas estava bom. Os ministros apenas comunicaram que fizeram um acordo de procedimento ¿ resumiu um interlocutor do presidente.

Lula, segundo assessores, passou boa parte da reunião da coordenação política comemorando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), divulgada na semana passada pelo IBGE, que mostrou redução da pobreza em 2004.

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