Título: Dirceu: pressionado, Aldo diz que vota amanhã
Autor: Maria Lima, Isabel Braga e Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 29/11/2005, O País, p. 8

Ou ele faz uma sessão extraordinária ou desmoraliza a Casa. O atraso é muito ruim até para o petista¿, diz pefelista

BRASÍLIA. Fim de linha para recursos e manobras do deputado José Dirceu (PT-SP) para tentar evitar a votação do pedido de cassação de seu mandato no plenário. Mesmo sem quórum na sessão de ontem, que contaria o prazo para o julgamento na sessão ordinária de amanhã, a votação deve ocorrer numa sessão extraordinária que será realizada a partir das 17h ou das 18h. Pressionado pela opinião pública, pela oposição e por setores do governo e do PT, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), decidiu manter a votação marcada para amanhã, independentemente do resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os recursos de Dirceu, que também será retomado amanhã.

A tendência é que o STF adote o voto do ministro Cezar Peluso, que determina a retirada do depoimento da presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, da leitura do relatório de Júlio Delgado (PSB-MG) em plenário, sem necessidade de nova contagem de prazo de duas sessões.

¿ Não estou trabalhando com a hipótese de adiar o julgamento de quarta-feira. O que não significa que outras pessoas não estejam trabalhando neste sentido ¿ disse Aldo, numa crítica indireta à falta de quórum na sessão de ontem. ¿ O calendário está ficando limitado e não é aconselhável adiar o julgamento mais uma vez.

Perguntado se iria mesmo manter o julgamento para amanhã, Aldo afirmou:

¿ O STF está decidindo. O que sugere, parar a Câmara?

A expectativa de Aldo e de líderes da Casa é de que o Supremo decida a questão no início da tarde, possibilitando que a Câmara tome as providências, dependendo da decisão: votar o parecer, se o STF indeferir o pedido de Dirceu, ou suspender a votação, se for atendido.

Regimento pode ser driblado

A falta de quórum nas sessões plenárias de ontem e de sexta-feira passada abriu caminho para novo adiamento, porque era necessário um intervalo de duas sessões entre a última do Conselho de Ética e a votação em plenário. Para fugir deste percalço regimental, a Câmara pode realizar uma sessão extraordinária hoje ou aprovar um requerimento, com no mínimo 51 assinaturas, para quebrar a exigência do intervalo.

As cobranças da oposição começaram cedo.

¿ Ou ele (Aldo) faz uma sessão extraordinária ou desmoraliza a Casa. O atraso é muito ruim até para Dirceu ¿ cobrou o líder do PFL, Rodrigo Maia.

Na sexta-feira o presidente do STF, Nélson Jobim, adiantou que a tendência era que o tribunal acompanhasse o voto de Peluso, retirando o depoimento de Kátia Rabello do processo.

¿ Estamos prontos para votar na quarta-feira. Se essa for a decisão do Supremo, estamos com o texto pronto para ser lido em plenário sem o depoimento ¿ disse Delgado.

Enquanto Dirceu continuava na Paraíba participando de atos de solidariedade, seu advogado José Luís Oliveira Lima enviou aos ministros do STF um memorial contestando os argumentos do Conselho de Ética, e propondo que prevaleça o voto do ministro Marco Aurélio de Mello, que manda o Conselho reinquirir as testemunhas de defesa.

¿ A defesa respeita opiniões, mas acha a tese de Marco Aurélio melhor ¿ disse o advogado.

Na Câmara, o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, criticou a reação dos deputados à decisão do STF:

¿ Decisões tomadas pelos dois poderes devem ser respeitadas. Essa não é uma postura construtiva.