Título: Número de miseráveis na área rural fica abaixo de 50% pela primeira vez
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 29/11/2005, Economia, p. 22

Em 12 anos, índice passou de 63,34% para 47,67% dos habitantes

RIO e RECIFE. Desde 1992, início da série estatística do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS-FGV), a miséria nas áreas rurais não deixou de cair por um ano sequer. Não por acaso, o campo concentra a maior proporção de indigentes do Brasil. Em 12 anos, a taxa passou de 63,34% para 47,67% dos habitantes, um cálculo que não leva em conta os moradores das áreas rurais dos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. O resultado de 2004 é o menor já apurado pela FGV e o primeiro a ficar abaixo de 50%.

Ao contrário de 2003, quando houve aumento, a indigência caiu em 2004 tanto nas áreas metropolitanas quanto nas urbanas. As metrópoles, que sofreram com o desemprego depois de 1998, viram a proporção de indigentes cair de 19,14% para 17,56% entre 2003 e 2004. Foi o terceiro melhor resultado em 12 anos. Em 2003, o índice subira três pontos percentuais. Nas áreas urbanas, que englobam cidades médias, cujas economias têm crescido fortemente nos últimos anos, a indigência atingiu também o menor nível desde 1992. A proporção de indigentes caiu de 24,99% para 22,94% desde 2003.

Tendência é de melhora dos indicadores sociais

Jonas Fernandes, de 19 anos, morador de Recife, foi um dos que se beneficiou da melhora social. Procurava emprego há um ano. Diante das dificuldades, foi ajudar o pai, entregador de móveis. Só há quatro meses conseguiu vaga como ajudante de produção numa caldeiraria, com salário de R$347,60.

¿ Há um ano estava batalhando. Estava complicado, mas consegui. Estou como prestador de serviço, mas com seis meses posso ser efetivado ¿ planeja.

Jonas resume uma tendência que o economista Marcelo Neri já prevê para os indicadores sociais de 2005. Como a recuperação do emprego se manteve nos três primeiros trimestre do ano, a tendência é de que a Pnad 2005 traga, novamente, uma onda de boas estatísticas sociais para o país.

Neri calculou também a queda da extrema pobreza com base na metodologia de US$1 por dia, do Banco Mundial. Descobriu que, entre 1993 e 2004, a proporção de brasileiros miseráveis caiu de 12,41% para 5,33%. Se estivéssemos em 2015, o país teria cumprido a meta número um dos Objetivos do Milênio: reduzir à metade a proporção de pobres em 25 anos, a partir de 1990. Na linha da FGV, a queda no mesmo período foi de 36%. Marcelo Medeiros, do Centro Mundial de Pobreza da ONU, festeja a queda da indigência, mas diz que US$1 ao dia é compatível com a África, não com o padrão do Brasil.

COLABOROU Pereira Júnior