Título: SADDAM EM NOVO ATAQUE DE FÚRIA NO TRIBUNAL
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Fonte: O Globo, 29/11/2005, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 29
Julgamento do ex-ditador recomeça mas volta a ser adiado três horas depois. Única testemunha depõe em vídeo
BAGDÁ. Depois de um adiamento de 40 dias, o julgamento de Saddam Hussein foi reiniciado ontem, mas novamente em clima confuso: ao fim de três horas marcadas por novas declarações desafiantes e iradas do ex-ditador iraquiano, o julgamento foi mais uma vez adiado, por uma semana. O motivo: dois de seus sete ex-assessores que também estão sendo julgados não aceitaram o advogado escolhido para eles em substituição a outro, que foi assassinado.
Os cinco juízes do caso tiveram tempo para ouvir apenas a primeira ¿ e por enquanto única ¿ testemunha, ainda assim num depoimento em vídeo, gravado dias antes de ela morrer de câncer. Trata-se do ex-comandante da polícia secreta Wadah al-Sheikh. O medo de testemunhar contra o ex-Carniceiro de Bagdá, bem como de defendê-lo, ronda os iraquianos depois de dois advogados de defesa serem mortos em atentados e outro fugir. Ontem, quatro advogados de defesa não apareceram e, em Kirkuk, oito sunitas foram presos com um documento de um aliado de Saddam que ordenava o assassinato de um dos juízes.
Antes de entrar no tribunal, Saddam reclamou de ter sido algemado por guardas americanos. As algemas acabaram sendo retiradas dos oito réus. Na corte, ele reclamou que fora obrigado a subir quatro andares de escada (porque o elevador estava quebrado) vigiado por ¿guardas estrangeiros¿. Como na sessão anterior, agrediu verbalmente o juiz-chefe, Rizgar Mohammed Amin. Quando lhe disse que guardas haviam lhe tirado a caneta o juiz afirmou:
¿ Vou alertar a polícia.
O ex-ditador reagiu:
¿ Não quero que você alerte! Quero que ordene. Eles estão em nosso país. Você é iraquiano, é soberano. Eles são estrangeiros, invasores, ocupantes, portanto você deve condená-los.
¿Vocês pensam que vão entrar no paraíso?¿
Saddam voltou a citar versos do Alcorão, aparentemente para sugerir que crimes ocorridos durante os 24 anos de seu regime devem ser julgados por Deus, e não num tribunal.
Consultor da equipe de defesa, o ex-procurador-geral dos EUA Ramsey Clark participou da sessão. O julgamento foi adiado para permitir que Barzan Ibrahim al-Tikriti, meio-irmão de Saddam, e o ex-vice-presidente Taha Ramadan se reúnam com novos advogados. Os oito réus estão sendo julgados pelo assassinato de 148 homens e adolescentes na cidade de Dujail, numa reação militar a um atentado contra Saddam em 1982. Ontem houve manifestações contra e a favor do ex-ditador.
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