Título: OPERAÇÃO AMÉRICA PRENDE 30 POR IMIGRAÇÃO ILEGAL
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 30/11/2005, O País, p. 13

Bando enviava até 20 pessoas por dia para o México, com destino aos EUA, e movimentava US$3 milhões por mês

SÃO PAULO. Pelo menos 30 pessoas estão presas em Guarulhos, na Grande São Paulo, acusadas de integrar uma quadrilha que enviava de 15 a 20 pessoas por dia para o México, com destino aos Estados Unidos, e também oferecia imigração ilegal para a Nova Zelândia. O grupo movimentava até US$3 milhões (R$6,6 milhões) por mês e agia em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.

O grupo cobrava entre US$8 mil e U$12 mil de cada imigrante ilegal. Quando os interessados não tinham dinheiro, penhoravam casas, veículos e deixavam documentos originais com os operadores. A polícia suspeita que muitos brasileiros que chegaram aos Estados Unidos pelo esquema estejam submetidos a trabalho escravo e que outros tenham morrido na fronteira do México.

A chamada Operação América reuniu Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos e Ministério Público de Guarulhos.

O chefe da quadrilha descoberta pela polícia, cujo nome não foi divulgado, ainda deve ser preso no Brasil. Outras prisões podem ser feitas nos EUA e no México. A quadrilha começou a ser investigada há 15 meses, depois de um comunicado do consulado americano alertando para um esquema de tráfico que passava pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos.

- Quebramos sigilos telefônicos e descobrimos que além do esquema de imigração ilegal, que se espalhava por vários estados, eles clonavam cartões de crédito para pagar passagens aéreas - disse o promotor Fábio Bechara.

O bando será indiciado por estelionato, formação de quadrilha e falsificação de documentos, já que as vítimas aceitaram o tráfico por livre vontade. Segundo o delegado de Guarulhos, Eduardo Gobetti, que coordena a operação, o serviço secreto americano continuará agindo no caso. Foi a primeira grande operação que o Departamento de Segurança Interna integrou no Brasil.

O delegado de Guarulhos explicou ainda que as escutas telefônicas desvendaram a forma de atuação da quadrilha, que fazia as travessias com coiotes mexicanos pelo Rio Grande, pelo deserto e por estrada. A polícia descobriu também os hotéis onde os futuros imigrantes ficavam abrigados em Guarulhos e São Paulo. Ontem, vítimas foram levadas dos hotéis para prestar depoimento à polícia.

- O Aeroporto de Guarulhos funcionava como um grande escritório deles - disse o delegado.

Além disso, foi descoberto um esquema de clonagem de cartões de crédito e de compras de passagens no Rio com uma agência de turismo que adquiria as passagens a partir de Foz do Iguaçu e uma rede de arregimentação em Minas Gerais. O grupo também contrabandeava mercadorias importadas dos Estados Unidos.

- Suspeitamos de mortes e trabalho escravo. Nas gravações, notamos que a situação das vítimas no México era precária. Eles falam: "Estamos bebendo água de pia e passando a pão com manteiga" - contou o delegado.

Vários presos negaram as acusações da polícia. Eles disseram que sabiam do esquema de tráfico de seres humanos, mas negaram participação.

EUA: REPRESSÃO A IMIGRANTES BRASILEIROS na página 34

'Se me descobrissem, eu morreria'

SÃO PAULO. O policial civil Robson Feitosa da Silva, de Guarulhos, passou dez semanas infiltrado entre coiotes mexicanos e operadores brasileiros do esquema de envio ilegal de brasileiros para os EUA. Ele foi apoiado pelo serviço secreto americano e teve autorização da Justiça no Brasil para obter documentos falsos nos órgãos brasileiros.

- Se me descobrissem, eu morreria. E tive que negociar com gente muito especializada.

O policial conta que os traficantes combinam um esquema onde um entre cada três imigrantes ilegais, que lhes pagavam de US$8 mil a US$10 mil, é entregue ao departamento de imigração americano.

- É o jeito que eles arrumam para despistar as autoridades e ainda manter os lucros no negócio, já que o dinheiro não é devolvido.

EUA: REPRESSÃO A IMIGRANTES BRASILEIROS na página 34