Título: `HÁ FARTURA DE PROVAS¿, AFIRMA RELATOR
Autor: Flávio Freire e Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 01/12/2005, O País, p. 5

Dirceu teve mais direito de defesa do que qualquer cidadão¿, completa ele

BRASÍLIA. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra o ex-deputado José Dirceu (PT-SP), afirmou ontem, em seu discurso, que mesmo com a retirada de trechos do relatório para cumprir decisão do Supremo Tribunal Federal, havia provas contundentes do envolvimento do ex-ministro no esquema de relações promíscuas entre o governo e sua base na Câmara. Ele também refutou as alegações de que houve cerceamento de defesa.

¿ Há uma fartura de provas de favorecimento indevido e de abusos da máquina pública. Mesmo retirados trechos, permanecem no nosso relatório provas robustas. O deputado José Dirceu teve mais direito de defesa que qualquer cidadão, o mais amplo direito de defesa da História da nossa República.

Delgado cita relação de petista com Valério

Delgado citou, como provas de que Dirceu atuou no esquema do mensalão, sua relação com o empresário Marcos Valério de Souza. Para o relator, não era amizade e não era apenas um relacionamento social, como afirmara o petista. O relator lembrou o encontro de Dirceu com Valério e com o presidente do BMG, Ricardo Guimarães, em Luziânia (GO), três dias antes da celebração de empréstimos entre o PT e o BMG.

Também referiu-se aos problemas financeiros de Ângela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, que recorreu a Valério. Delgado lembrou que Ângela conseguiu empréstimos no Banco Rural e no BMG, e vendeu um imóvel a um dos sócios de Valério.

O relator citou ainda o acordo de repasse de R$10 milhões ao PL, que teria sido feito por Dirceu e pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, para garantir José Alencar como vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial. E também o dinheiro de campanha para o publicitário Duda Mendonça e os R$50 mil sacados do Banco Rural, cujo primeiro indicado teria sido Roberto Marques, amigos de Dirceu.

¿ Não se preocupem com a retirada dos atos sigilosos, com a exclusão do depoimento de Kátia Rabello (presidente do Banco Rural), porque isso não é o fundamental. As provas estão nos autos ¿ disse Delgado.

Segundo o relator, Dirceu exerceu o mandato parlamentar com paixão, mas faltou-lhe o sentido das limitações que um cargo público impõe:

¿ Ninguém perde o mandato por sua história ou passado.