Título: No plenário, tranqüilidade até a hora da decisão
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 01/12/2005, O País, p. 9

Nem campanha pró-Dirceu, com faixas nas ruas e em gabinetes, tirou o clima de calmaria da votação da cassação

BRASÍLIA. Nem parecia que o plenário da Câmara estava julgando o deputado José Dirceu (PT-SP), aquele que foi o homem forte dos dois primeiros anos do governo Lula e o líder que levou o PT ao poder. Nas primeiras horas da sessão que votou o pedido de cassação do mandato do petista, o clima era de tanta tranqüilidade que não houve espaço para as intermináveis questões de ordem que sempre ocorrem numa situação de tensão.

Mas o clima de uma votação histórica já era percebido nas primeiras horas da manhã, na Esplanada dos Ministérios, onde estavam espalhadas faixas de apoio e solidariedade ao petista. Uma das faixas tinha a inscrição ¿José Dirceu, o guerreiro brasileiro¿. Outra dizia: ¿Vigília pelo estado de direito¿. Também havia bandeiras vermelhas do PT no gramado da Esplanada.

Relator leva 25 minutos para justificar pedido de cassação

No plenário, a maioria dos deputados sequer acompanhou com atenção o discurso do relator, Júlio Delgado (PSB-MG), que durante 25 minutos apontou as razões pelas quais considerava que Dirceu deveria perder seu mandato.

Quando Dirceu começou seu discurso, que durou mais de 40 minutos, fez-se um grande silêncio, interrompido apenas por aplausos de seus aliados. A bancada do PT deixou claro que estava a seu lado. Alguns deputados levaram ao plenário uma faixa, também pendurada na porta de diversos gabinetes, com os dizeres: ¿Preso político ontem. Perseguido politico hoje. Viva José Dirceu¿.

Os petistas também distribuíram cartilhas na entrada do plenário apontando 13 (número do PT) manipulações que teriam ocorrido no processo do Conselho de Ética.

Os petistas e líderes dos partidos aliados acompanharam com atenção todo o pronunciamento de Dirceu. Um dos mais atentos era Ricardo Zaratini, suplente e amigo de Dirceu, e que poderá assumir seu mandato, como já fizera quando o deputado foi chefe da Casa Civil.

Apesar de posições firmes, contra e a favor da cassação, os líderes de todos os partidos tinham um objetivo comum: garantir que a sessão fosse a mais tranqüila possível, sem tumultos. Nas galerias, poucas pessoas e todas bem comportadas.

Pedetista pediu saída de Aldo do comando da sessão

O desejo de uma sessão tranqüila prevaleceu quando o deputado Alceu Collares (PDT-RS) subiu à tribuna fazer uma questão de ordem pedindo que o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), fosse declarado impedido de presidir a sessão. Collares argumentou que, tendo sido testemunha de defesa de Dirceu no Conselho de Ética, antes de ter sido eleito para comandar a Casa, ele deveria se declarar suspeito.

Collares citou o parágrafo sexto do artigo 180 do Regimento Interno, que prevê que o deputado se declare impedido quando fosse a voto questão que envolve causa própria e interesse individual.

Um correligionário de Collares, João Fontes (PDT-SE), contestou a questão de ordem e sua manifestação recebeu o apoio dos líderes do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e do PSDB, Alberto Goldman (SP). Aldo ficou irritado com a questão levantada por Collares e, ao rejeitá-la, fez um discurso forte, dizendo que homens honrados não exercem a função pública para proteger amigos ou para perseguir inimigos.

Os parlamentares de oposição também ouviram com atenção e respeito o discurso de Dirceu, que foi saudado ao final com uma salva de palmas. Ao descer da tribuna o petista foi cercado por correligionários e aliados que foram abraçá-lo e levar sua solidariedade.