Título: Planalto abandona ex-ministro à própria sorte
Autor: Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e Ilimar Fran
Fonte: O Globo, 01/12/2005, O País, p. 11

Lula ordenou que governo não agisse em favor de Dirceu; houve apenas atos isolados de apoio de ministros

BRASÍLIA. Apesar dos apelos de dirigentes petistas, o Palácio do Planalto deixou o deputado José Dirceu (PT-SP) à própria sorte no dia decisivo do ex-chefe da Casa Civil. A ordem do presidente Lula, para que não houvesse ação de governo em favor de Dirceu, foi cumprida à risca pelos inquilinos do Planalto. O temor no núcleo do governo era de que uma eventual operação tivesse um reflexo negativo para o próprio Lula.

Isso não evitou, porém, gestos isolados de ministros e assessores do governo amigos de Dirceu, que trabalharam nos bastidores em favor do petista. Agiram nos bastidores, pedindo apoio, os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral), Luiz Marinho (trabalho), Walfrido Mares Guia (Turismo) e o vice-presidente José Alencar.

Wagner: pedido de cassação baseado em suposições

Mesmo em viagem à Argentina e depois a Curitiba, o presidente Lula se manteve informado do desenrolar do caso, inclusive da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Amigo de Dirceu e defensor de sua absolvição no processo contra o ex-chefe da Casa Civil, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, negou qualquer ação do Planalto em favor do ex-ministro, mas reiterou que não havia provas contra ele:

¿ Sou a favor do direito de defesa do deputado José Dirceu. Mas não estou interferindo na decisão da Câmara. No entanto, considero inconsistente um pedido de cassação baseado em suposições. Confio na decisão dos deputados, e o voto secreto é da consciência de cada parlamentar ¿ disse Wagner.

Ao longo do dia, Wagner manteve contato com deputados que estavam na tropa de choque de Dirceu, como Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Sigmaringa Seixas (PT-SP), e com políticos de fora de Brasília, que lhe telefonaram pedindo informações. Nessas conversas, Wagner dizia que o Planalto não tinha como interferir, mas ressaltava que Dirceu tinha muitos amigos na Câmara e que eles sim estavam atuando em favor do deputado.