Título: PROMOTORES: MORTE DE DANIEL PODE TER OUTROS MANDANTES
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 01/12/2005, O País, p. 12

CPI investiga versão que envolve João Arcanjo, o Comendador

BRASÍLIA. A CPI dos Bingos ouviu ontem três promotores e a delegada de São Paulo responsáveis pela reabertura das investigações do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em janeiro de 2002. Eles disseram não ter dúvidas da participação no crime do empresário e ex-segurança do prefeito Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, mas investigam a possibilidade de haver outros mandantes para o crime.

O promotor Roberto Wider Filho afirmou que Daniel foi torturado para dar informações e o motivo do crime seria um desacerto no esquema de corrupção em Santo André. Daniel, segundo as investigações do Ministério Público, concordava com a arrecadação de dinheiro para caixa dois, mas teria decidido investigar o desvio de recursos para enriquecimento pessoal.

Wider disse que os promotores sofrem pressões:

¿ Fomos chamados de gestapo (a polícia nazista alemã) pelo deputado José Dirceu e havia uma posição clara para descredenciar nosso trabalho.

Os promotores se queixaram do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em 2002, impediu a investigação de suspeita que dinheiro de propina arrecadado pela prefeitura teria abastecido o caixa dois do PT.

Nova testemunha liga morte a Comendador Arcanjo

A CPI dos Bingos no Senado investiga uma suposta ligação da morte de Celso Daniel com um dos maiores chefes do crime organizado do país: João Arcanjo Ribeiro, o Comendador Arcanjo, preso no Uruguai desde 2003, acusado de comandar uma quadrilha que age em cinco estados e de sonegar R$842 milhões à Receita Federal.

A possível ligação foi citada por uma ex-funcionária de Arcanjo em Mato Grosso, que foi incluída no programa de proteção a testemunhas de São Paulo após ser ameaçada de morte.

A nova testemunha, cujo nome é mantido sob sigilo, fez a denúncia em setembro de 2003, já sob proteção. A coordenação do programa repassou ao Ministério Público de São Paulo uma carta em que a ex-funcionária conta, dois anos depois, que empregados de Arcanjo lhe relataram conversas na casa do patrão nas quais Sombra teria dito que estaria planejando a morte de Daniel. Em outra passagem, a testemunha diz ter presenciado uma visita de Sombra à casa de Arcanjo, após o crime.

O promotor Roberto Wider confirmou ontem que recebeu uma carta da testemunha e que vai chamá-la para depor. Mas não deu detalhes para preservar a ex-funcionária.

Na carta, em tom desesperado, a testemunha relata aos promotores o desaparecimento de seu irmão, que trabalhava como segurança do Comendador Arcanjo, preso em Montevidéu, no Uruguai, em abril de 2003, junto com a mulher Silvia Chirata, também acusada de lavagem de dinheiro. (Alan Gripp)