Título: República¿ teria usado motorista como laranja
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 01/12/2005, O País, p. 12

Telefones comprados em nome de Francisco Costa podem ter sido utilizados para evitar que ligações fossem detectadas

BRASÍLIA. Integrantes da chamada República de Ribeirão Preto podem ter usado telefones celulares adquiridos em nome de um laranja para se comunicar com maior segurança, evitando que os contatos entre eles fossem detectados. A suspeita está sendo investigada pela CPI dos Bingos no Senado e pela Polícia Federal a partir do depoimento de uma nova testemunha do caso: o motorista Francisco das Chagas Costa, que nos anos de 2003 e 2004 prestava serviços para pelo menos seis assessores e ex-assessores do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quando eles estavam em Brasília.

No depoimento, ao qual O GLOBO teve acesso, o motorista conta que em 2003 Vladimir Poleto, acusado de transportar supostos dólares de Cuba, lhe pediu cópias de documentos pessoais para que habilitasse um telefone, que passou a servir para o contato entre eles. Durante o depoimento, no entanto, Francisco Costa foi informado pelos agentes federais que duas outras linhas estavam registradas em seu nome. O motorista reconheceu os números como sendo os usados durante dois anos por Poleto e por Ralf Barquete. Barquete é acusado de arrecadar e transportar dinheiro de propina e morreu em 2004.

A CPI dos Bingos anunciou que vai quebrar o sigilo telefônico das duas linhas para saber com quem Poleto e Barquete falavam pelos telefones secretos. Os números foram habilitados no mesmo dia (9 de maio de 2003) e desativados este ano, depois que nomes de ex-assessores de Palocci vieram à tona.

No depoimento, Francisco das Chagas Costa contou que já prestou serviços para o assessor particular de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva, investigado pela CPI por fazer mais de 2.300 ligações para ex-assessores do ministro. Assim como para o advogado Rogério Buratti, que foi secretário de Governo de Palocci em sua primeira gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto e denunciou o suposto esquema de arrecadação de propina montado na administração do município; para Roberto Carlos Kurzweil, empresário que cedeu o Omega preto onde foram transportadas as caixas de uísque supostamente contendo os dólares de Cuba; e para Ruy Barquete, irmão de Ralf.

O motorista contou bastidores da casa alugada por Poleto no Lago Sul, em Brasília, onde o grupo de Ribeirão Preto se reunia. E revelou que se lembra de ter ouvido Buratti, Barquete e Poleto terem comentado sobre reuniões com representantes da multinacional de loterias Gtech. Os três são suspeitos de cobrarem propina da empresa para que ela renovasse um contrato de processamento de loterias com a Caixa Econômica Federal (CEF), em abril de 2003. O negócio também é investigado pela CPI dos Bingos.

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