Título: LULA CULPA HERANÇA ECONÔMICA DE 20 ANOS POR RESULTADO RUIM
Autor: Cássia Almeida e Mariza Louven
Fonte: O Globo, 01/12/2005, Economia, p. 27

Palocci afirma que terceiro trimestre não compromete a longo prazo e foi apenas um ponto fora da curva

CURITIBA e PORTO IGUAÇU (Argentina). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre ¿foi ruim¿, pois ele gostaria que crescesse ¿um monte por cento¿, mas lembrou que ele herdou duas décadas de estagnação econômica.

¿ Não tenho culpa se só peguei o governo há três anos ¿ disse Lula, durante um discurso de 40 minutos proferido ontem à noite no encerramento do ¿Fórum Futuro 10 Paraná¿, em Curitiba.

Sobre a queda no crescimento do PIB, Lula relacionou o menor crescimento à crise política. Para o presidente, o mais importante é o país crescer 3%, 4% ou 5% durante dez anos e assim conseguir recuperar o que perdeu em 20 anos de estagnação. Lula acrescentou que se pudesse já teria reduzido a taxa de juros.

¿ Todo mundo quer isso. Mas é mais difícil fazer do que teorizar. Se eu pudesse fazer isso com uma Medida Provisória, eu já teria feito.

Em Porto Iguaçu, na Argentina, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tentou minimizar o resultado da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano assegurando que a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) não representa uma tendência: ¿foi apenas um ponto fora da curva de crescimento¿. Tranqüilo e de bom humor, Palocci disse que o resultado do terceiro trimestre não compromete a expansão da economia brasileira a longo prazo, mas admitiu que o governo vai refazer as contas do crescimento para 2005.

¿ Tivemos um desempenho espetacular nas contas externas. Os indicadores mostram forte estabilidade e crescimento de longo prazo ¿ disse Palocci, ao ser perguntado sobre a possibilidade de rever a meta de crescimento para este ano, de 3,4%.

Furlan defende revisão da política monetária diante de novo cenário

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, não compartilhou do otimismo de Palocci. Segundo ele, o governo não alcançará a meta de crescimento para 2005:

¿ A política monetária precisa ser ajustada frente ao novo cenário.

Palocci lembrou que o esforço monetário no fim de 2004 e no início deste ano foi importante na redução da inflação. Mas esta vitória, admitiu, está representando um custo para o país.

¿ Toda política monetária tem custo, mas o importante é que nós devemos fechar o ano com menos dois pontos percentuais na inflação ¿ disse o ministro, que participou do encontro entre os presidentes Lula e Néstor Kirchner, para comemorar os 20 anos da primeira reunião que marcou o início da integração bilateral.