Título: `Teria subido um pouco menos¿
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 01/12/2005, Economia, p. 28

Idealizador do sistema de metas de inflação, hoje diretor do Itaú, Sérgio Werlang teria sacrificado menos a economia, elevando menos ou reduzindo mais rapidamente os juros básicos. Para ele, é isso que o BC fará de agora em diante.

Como o senhor recebeu o resultado negativo do PIB no terceiro trimestre?

SÉRGIO WERLANG: No Itaú esperávamos queda de 0,4%, um número um pouco pior que a mediana do mercado. O resultado de -1,2% só vai reforçar a idéia de que é apropriado ao Banco Central (BC) ampliar a queda dos juros. Há espaço para três cortes de 0,75 ponto percentual na Selic. Em dezembro, a queda poderia chegar a um ponto. No fim de 2006, a Selic estaria em 15%.

O Itaú esperava cortes de 0,75 ponto antes do PIB?

WERLANG: Achávamos que haveria espaço para quatro cortes dessa magnitude, a partir de novembro. Isso quando esperávamos queda de 0,4% no PIB.

Acha que o Banco Central exagerou na dose?

WERLANG: Posso falar por mim. Eu teria subido os juros um pouco menos e os teria reduzido mais rápido.

O Itaú vai rever sua projeção de crescimento?

WERLANG: Nunca estivemos entre os mais otimistas. Até março, esperávamos 2,5%. Depois do resultado do segundo trimestre, elevamos a projeção para 3,3%. Recentemente, revimos para 2,8%. Hoje, esperamos 2,1%.

A política monetária afetou demais a economia?

WERLANG: As medidas do PIB são muito voláteis. Esse -1,2% pode virar -0,5% rapidamente. Na prática, o que deve acontecer é o BC intensificar a queda da Selic. Poderia até ser via reunião extraordinária. É fácil corrigir o resultado negativo: é só cortar mais rápido os juros. Em três a seis meses, já teria efeito. O BC podia ter defendido uma meta um pouco acima de 5,1%. Mas não houve dano à estrutura econômica. Se o juro cair, o PIB volta ao normal.