Título: Imprensa na linha de tiro do ex-deputado
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 02/12/2005, O País, p. 3

BRASÍLIA. O ex-deputado José Dirceu dedicou um bom trecho de sua entrevista para acusar parte da imprensa de agir com parcialidade, tomar partido e fazer denúncias vazias. Dirceu disse que pretende fazer esse debate na internet, talvez criando um site, porque, para ele, há órgãos da imprensa que agem como partido político.

¿ Quero disputar com a imprensa porque parte dela está como partido político no Brasil. É bom que comecem mesmo a fazer editorial, que assumam. Acredito que a opinião pública vai começar a se dar conta disso e o jornal vai perder credibilidade ¿ disse.

O principal ataque foi feito em resposta a um jornalista da ¿Folha de S.Paulo¿, que citou a existência, no passado, de uma aliança do PT com a imprensa e o Ministério Público para fazer denúncias aos governos de então. O jornalista perguntou se Dirceu não estaria colhendo agora o que plantou.

O ex-deputado negou que tenha estimulado a imprensa a fazer esse tipo de investigação mas fez também um mea-culpa: admitiu ter errado na relação com os jornalistas nos 30 meses em que esteve à frente da Casa Civil. Disse que a imprensa tem direito de investigar e denunciar, mas não pode fazer denúncias evasivas, construindo cenários.

¿ Não diria que a imprensa não deve expressar suas opiniões para seus leitores nem deixar de fazer investigações. Mas existe uma fronteira para onde começa a disputa política que a imprensa participa ou a construção de denúncias irresponsáveis e vazias ¿ disse Dirceu. ¿ A imprensa não teve cuidado em alguns casos.

Centrando seus ataques à revista ¿Veja¿ e ao âncora da TV Record, Bóris Casoy, o petista deu como exemplo o repasse de R$50 mil do valerioduto vinculado a ele por ter tido, como primeiro destinatário, um amigo seu, Roberto Marques.

¿ No caso Roberto Marques, vem a ¿Veja¿ e diz que o dinheiro foi repassado para o senhor José Carlos Mazzano e depois para o Roberto Marques. Não tem provas, não tem nada, mas fala, afirma e repete. O que a ¿Veja¿ faz e repete mostra que uma coisa é denúncia... O comentário do Boris Casoy depois que saiu a notícia do Supremo sobre a minha pessoa... Ele tem o direito de fazer e eu tenho direito de dizer que é uma coisa irresponsável.

E acrescentou:

¿ No Brasil há donos de imprensa, há interesses econômicos. A imprensa não é neutra, tem os seus problemas, as suas dívidas. Temos que começar a discutir isso abertamente. Sempre cobro: a imprensa publica sobre mim, quero ter o direito de responder.

Por fim, reconheceu que teve direito de resposta na imprensa e admitiu que o usou menos do que lhe foi oferecido. Por estratégia:

¿ Não estou dizendo que não estou tendo (direito de defesa), até deixei de usar em determinado momento como estratégia de defesa.

Em resposta a Dirceu, Boris casoy afirmou:

¿ Não vejo qualidades morais nele para me criticar.

Procurado, o diretor de Redação da ¿Veja¿, Eurípedes Alcântara, estava em fechamento.