Título: `Julgamento foi inconseqüente¿
Autor: Lydia Medeiros e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 02/12/2005, O País, p. 8

Prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR), José Carlos Becker de Oliveira e Silva considerou a cassação de seu pai, José Dirceu, ¿bastante ruim¿ para o governo, o PT, o Congresso e a democracia. Zeca Dirceu é filho do casamento de José Dirceu com Clara Becker, no período em que o ex-ministro viveu na clandestinidade no Paraná. O prefeito está sendo investigado sob suspeita de ter usado a influência do pai para obter recursos para prefeituras do Paraná.

Como analisa a cassação de seu pai?

ZECA DIRCEU: Já se evidenciava que não seria um processo pautado por provas, mas um julgamento inconseqüente que criou precedentes ruins para a democracia e o país. O governo federal, o PT e o Congresso perderam um grande líder. A oposição não só premeditou a cassação como fez isso para desestabilizar o governo e jogar contra a democracia.

Dirceu se afastará do PT?

ZECA DIRCEU: Não! Ele continuará participando do PT. Ele não depende de cargo para liderar. Quando foi derrotado na eleição para o governo de São Paulo (em 1994), ficou sem cargo, mas esteve presente nas mais importantes decisões do partido. Assim será daqui para a frente.

Faltou ao presidente Lula uma declaração de apoio a Dirceu?

ZECA DIRCEU: Não vejo isso como papel do governo, que tem desafios próprios. A posição do governo e do presidente é compreensível. Lula sempre teve uma postura coerente e fez seu papel.

O senhor defendeu a renúncia de seu pai? Faria algo diferente dele?

ZECA DIRCEU: Embora (a renúncia) tivesse conseqüência política menos desastrosa, meu pai não conseguiria viver bem se tivesse renunciado. Não combinaria com 40 anos de trajetória política. É difícil analisar se faria diferente. Ele começou a ser chamado de o homem mais corrupto do país. Isso não é nada fácil.