Título: Adversários não celebram, aliados fazem luto
Autor: Lydia Medeiros e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 02/12/2005, O País, p. 8

Clima no Congresso era de consternação com cassação de Dirceu, considerada uma derrota do PT e do governo

BRASÍLIA. Os adversários não comemoraram e os amigos estavam de luto. O clima ontem no Congresso era de consternação com a cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP). Nos partidos de esquerda, a derrocada era vista como a perda de um símbolo, especialmente para o PT. Um importante aliado do agora ex-deputado resumiu as conseqüências da decisão da Câmara, classificando-a como uma derrota para a política, o PT, o governo e a esquerda.

Outro aliado, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), preferiu não dar conotação pessoal à avaliação que fez da decisão da Casa. Disse que a cassação de Dirceu ¿corresponde à determinação da maioria da Casa e tem que ser respeitada¿. Aldo foi testemunha de defesa de Dirceu no Conselho de Ética e conviveu com ele no Planalto quando eram ministros.

¿ As relações pessoais cedem à manifestação da maioria. Não posso colocar meus sentimentos e relações políticas pessoais acima das instituições. O resultado da votação está acima de minhas relações pessoais. Minha responsabilidade é manter isenção, serenidade e equilíbrio e preservar a respeitabilidade do Legislativo e a defesa de suas prerrogativas. Vale para o que nos contraria e para o que nos agrada.

Mercadante: ¿Quero lamber as feridas¿

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo, estava abatido. Depois de um almoço com o presidente Lula, ele encarnava o estado de espírito dos petistas:

¿ Quero lamber minhas feridas. Meu sentimento profundo e sincero é de luto. Dirceu fez política toda a vida e vai ficar dez anos inelegível. É uma pena muito dura. Fui dormir arrasado.

O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, do PT, não quis nem comentar o assunto, mas não escondeu a tristeza:

¿ É o tipo do episódio que não se comenta. Enxugam-se as lágrimas e segue-se adiante.

Também petista, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) afirmou que a cassação do mandato do amigo Dirceu foi política. Para ele, o PT precisa trabalhar para recompor sua imagem. Ele observou que não houve comemoração do resultado:

¿- Ao contrário, o clima era de constrangimento geral. É a primeira vez na história do PT que um deputado é cassado, num processo tumultuado, atabalhoado e açodado.

O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), lembrou que o resultado da sessão foi fruto de decisão da Casa, não da oposição. Segundo ele, a Câmara concluiu que o esquema de corrupção mostrado pelas CPIs não pode ter sido montado apenas pelos ex-dirigentes petistas Delúbio Soares e Sílvio Pereira. Maia afirmou que não trabalhou pela cassação nem pediu votos no partido.

¿ O ambiente estava conturbado porque José Dirceu é um guerreiro. Se o PT entender que o resultado foi da Casa, não da oposição, a Câmara pode voltar a votar projetos importantes.

O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PL-SP), disse que foi surpreendido com o placar de 293 a 192. E reconheceu o esforço da defesa:

¿ Nós, que acompanhamos as provas e testemunhas, esperávamos uma diferença maior. Mas ele fez um trabalho bonito e seu advogado foi brilhante.