Título: CRÍTICAS NO PALÁCIO DO PLANALTO À POLÍTICA ECONÔMICA
Autor: Cristiane Jungblut, Regina Alvarez e Flávia Olivei
Fonte: O Globo, 02/12/2005, Economia, p. 27

Para ministros, Fazenda errou na dose. Reunião na segunda-feira vai propor alguma correção nos rumos

BRASÍLIA. O resultado negativo do PIB, que caiu 1,2% no terceiro trimestre do ano, recarregou as baterias dos que cobram ajustes na política econômica dentro do Palácio do Planalto. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci ¿ que na semana passada chegou a ameaçar sair do governo em meio às divergências com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff ¿ voltou à berlinda e foi alvo de duras críticas numa reunião da Coordenação de Governo ontem no Planalto. Na próxima segunda-feira, com a presença de Lula e Palocci, ausentes ontem, esse grupo deverá propor algum tipo de correção nos rumos da atual política.

A conclusão dos ministros que participaram do encontro de ontem (Jaques Wagner, Relações Institucionais; Dilma Rousseff, Casa Civil; Ciro Gomes, Integração Nacional; e Marcio Thomaz Bastos, Justiça) foi que a Fazenda errou na dose do remédio e precisa mudar rapidamente. Eles, e o próprio presidente Lula, foram surpreendidos com o nível de encolhimento do PIB. O diagnóstico do grupo que se reuniu ontem ¿ e que pode reacender a briga Dilma X Palocci ¿ é que os juros subiram mais do que deveriam, demoraram a cair e agora estão sendo reduzidos num ritmo lento. Outro problema identificado foi o câmbio, com a queda sistemática do dólar reduzindo os ganhos dos exportadores.

Apesar de ter se acertado com Palocci na visita que recebeu do ministro no domingo, Dilma foi a voz mais ativa nas reclamações. A ministra foi enfática em sua avaliação:

¿ Erraram a mão no câmbio e nos juros.

Mas apesar das duras críticas, o grupo concorda que o país precisa fazer superávit primário para conter a dívida pública e honrar compromissos externos. E também apóia o câmbio flutuante e o combate à inflação, mas vai insistir na correção do que considera exageros.

Entre os empresários que participaram da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, as críticas à política econômica também foram duras. Especialmente nos bastidores. O próprio presidente foi criticado pela dificuldade em tomar decisões, e o ministro Palocci seria considerado carta fora do baralho. A avaliação é que ele continua frágil por causa das denúncias de corrupção e da queda do PIB. O almoço do ministro com empresários no Rio, ontem, foi considerado um factóide por pesos-pesados presentes à reunião do Conselho.