Título: CONSELHO SE TORNA PALCO DE CRÍTICAS DE EMPRESÁRIOS À POLÍTICA ECONÔMICA
Autor: Aguinaldo Novo e Mariza Louven
Fonte: O Globo, 02/12/2005, Economia, p. 28

Para Fiesp e Iedi, juros altos e câmbio impedem crescimento do país

BRASÍLIA. A reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto, transformou-se em palco para duras críticas dos empresários à política econômica do governo Lula, inclusive defendendo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Um dia após a divulgação da queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre, alguns empresários acusaram o governo de criar um ambiente hostil para o desenvolvimento.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf ¿ eleito com o apoio do PT ¿ provocou constrangimento na reunião ao ler um manifesto assinado pela entidade e pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) com críticas à política econômica.

O ministro das Relações Institucionais e coordenador do Conselho, Jaques Wagner, tentou limitar o tempo da fala de Skaf, alegando que havia vários oradores até a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Skaf respondeu que nada era mais importante que discutir a falta de crescimento:

¿ Estamos perdendo uma grande oportunidade. Há uma teimosia imensa de não ajustar a política econômica.

Skaf: Dilma defende investimento, não gasto

No documento, as entidades criticam os juros altos, a carga tributária, o câmbio valorizado e a falta de investimentos e infra-estrutura. ¿Imaginar uma economia capaz de sobreviver e crescer sob tais condições é não só apostar no improvável como olhar com indiferença para as perspectivas de desenvolvimento futuro¿. Também afirmam que a gestão da economia privilegiou a estabilização da moeda em detrimento da produção e do emprego.

Na saída, Skaf saiu em defesa de Dilma Rousseff:

¿ Não é gasto que ela defende, é investimento mesmo ¿ disse, para depois criticar a equipe econômica. ¿ Esmos em uma guerra e um grupo que não tem suficiente visão do país não pode mandar no Brasil. Para salvar o ano que vem é preciso acelerar a queda de juros a partir de dezembro. A queda tem que ser de 1,5 ponto percentual a dois pontos ao mês.

Para o empresário Antoninho Trevisan, da Trevisan & Associados, outro conselheiro próximo ao governo petista, a queda do PIB não pode ser atribuída à crise política. Ele disse que o empresariado não vai suportar por muito tempo os juros altos.

O clima de descontentamento aumentou quando a professora da FGV Sonia Fleury reclamou que sua carta aberta com críticas ao ajuste de longo prazo proposto pelo deputado Delfim Netto, encampado pela área econômica, não fora distribuída aos conselheiros. Wagner alegou questões de tramitação e negou um boicote.

¿ Vai ser terrível se tivermos de enfrentar um governo do PT assessorado pelo conservador Delfim Netto propondo cortes nos gastos da saúde. Quantas mortes isso vai gerar? Quanta miséria e ingovernabilidade?