Título: Economistas: resultado do PIB surpreendeu BC
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 02/12/2005, Economia, p. 29

Apesar da surpresa, ata do Copom indica que Banco Central ainda será conservador no corte das taxas de juros

BRASÍLIA. Apesar do resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) no terceiro trimestre, o Banco Central (BC) continuou dando sinais de que pode não aumentar a magnitude do corte na taxa básica de juros ¿ hoje em 18,5% ao ano ¿ a curtíssimo prazo. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada antes da divulgação do PIB, ainda mostra preocupações com a inflação. Ontem, mesmo tendo admitido em reunião com economistas que foram surpreendidos pelo número do IBGE, diretores do BC tentaram minimizar o impacto do PIB, argumentando que existem outras variáveis importantes, como aumento de renda, de emprego e de consumo.

¿ O espanto do BC (sobre o resultado do PIB) foi menor do que para os políticos e o mercado ¿ afirmou o economista-chefe de um grande banco nacional que esteve presente ao encontro, do qual também participaram os diretores do BC Rodrigo Azevedo (Política Monetária) e Afonso Bevilaqua (Política Econômica).

A cada três meses, o BC reúne-se com vários economistas de instituições financeiras para colher informações sobre as perspectivas para a economia. Segundo um dos participantes, o BC citou ainda a recente crise política, que pode ter acarretado uma crise de confiança momentânea.

Para os analistas, já existe muito espaço para reduções mais fortes da Selic, mas não se espantariam se a autoridade monetária optasse por diminuí-la em apenas 0,5 ponto percentual na reunião deste mês. A partir de janeiro, no entanto, há expectativa quase consensual de que maiores cortes virão, na casa de 0,75 ponto. Os juros são um dos mecanismos usados para controlar a inflação, à medida que encarece o crédito e limita o consumo, com reflexos na atividade econômica.

¿ Pela ata, a probabilidade de corte agora (em dezembro) é de 0,5 ponto percentual, mas tem espaço para mais. Existe certo grau de conservadorismo do BC que permanece ¿ afirmou a economista-chefe da corretora BES, Sandra Utsumi.

Na ata divulgada ontem, o BC mostrou que continua de olho na inflação de curto prazo, sobretudo por causa dos recentes aumentos nos preços dos combustíveis. ¿O espaço para que observemos juros menores no futuro continuará se consolidando de forma natural como conseqüência dessa melhora de percepção. O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de convergência da inflação para a trajetória de metas¿, diz a ata.

No encontro de ontem com economistas, os diretores do BC disseram ter se surpreendido com os novos números do PIB, mas argumentaram que eles ainda podem ser alterados pelo IBGE, como ocorre normalmente. Além disso, defenderam que a queda da atividade agrícola (de 3,4%), uma das principais causas do fraco desempenho, ficou concentrada apenas no trimestre. Segundo os economistas, o BC também vê a retração do PIB foi um ¿ponto fora da curva¿, como dissera anteontem o ministro Antonio Palocci.