Título: Não caem do céu
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Fonte: O Globo, 03/12/2005, Opinião, p. 6

Mesmo com a economia brasileira crescendo bem abaixo do seu potencial, os índices de desemprego têm se mantido estáveis (ligeiramente abaixo de 10% da população economicamente ativa). Tudo indica que a fase de ajuste do setor privado no qual a liberação de mão-de-obra é mais intensa já passou pelo seu ponto crítico, de modo que hoje as empresas precisam contratar novos empregados quando expandem a produção e as vendas.

Então marchamos para o equilíbrio no mercado de trabalho? A resposta evidentemente é não. Pode-se dizer que o quadro deixou de se deteriorar, mas a economia brasileira está longe de criar todos os empregos capazes de ocupar de maneira digna milhões de pessoas que não têm trabalho ou estão na informalidade.

A geração de empregos depende muito do ritmo de atividade econômica e, principalmente, de novos investimentos. O país tem de ampliar sua taxa de investimento para a faixa de 25% do Produto Interno Bruto (atualmente está em 20%) e o caminho para isso está na liberação de poupança que é absorvida pelo desequilíbrio das finanças públicas.

Mas há também questões que, se solucionadas devidamente, podem estimular a contratação de mão-de-obra. Os encargos trabalhistas são demasiado altos e a atual legislação é um fator de conflitos ¿ não por acaso o Brasil é recordista de ações tramitando na Justiça do Trabalho.

A tão discutida flexibilização da legislação trabalhista empacou, e nem consta da agenda do Congresso ou do governo Lula.

Então, dificilmente a taxa de desemprego recuará para a faixa de 7% até o fim de 2006, como previra um ex-ministro do Trabalho.

Aos que se candidatam a um novo emprego só lhes resta mesmo investir na própria qualificação. Com todos os entraves à geração de empregos, as oportunidades para bons profissionais, qualificados, sempre são muito maiores do que as da mão-de-obra não qualificada, a maioria da população.