Título: PF APREENDE 4,8 KG DE COCAÍNA NO AEROPORTO
Autor: Antonio Werneck
Fonte: O Globo, 03/12/2005, Rio, p. 24

Lutador de jiu-jítsu e amigo queriam levar a droga para a Indonésia, país que adota pena de morte para o tráfico

Policiais federais prenderam ontem à tarde, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, Vinicius Ribeiro Santiago, de 22 anos, e Leandro Assunção Barroso, de 27, quando eles tentavam passar pela fiscalização com cerca de 4,8 quilos de cocaína camuflados em materiais esportivos. Os dois tentavam, em vôo doméstico, embarcar para Salvador, de onde seguiriam depois para a Europa, mas o destino final da viagem seria Bali, na Indonésia. A PF informou que parte da droga estava escondida dentro de sacos de areia semelhantes aos usados em treinamento por boxeadores.

Morador do Recreio dos Bandeirantes e com domínio fluente do idioma inglês, Vinicius Santiago, segundo a PF, era praticante de jiu-jítsu, com filiação na Federação de Jiu-Jítsu do Rio e treinava na academia Gracie da Barra da Tijuca. Ele contou que parou de estudar e estava desempregado. Por isso concordou em levar a cocaína para Bali. O vôo faria escala na Espanha. Levado para a Polícia Federal, ele chegou a chorar ao contar que venderia a droga em Bali e passaria 15 dias na Indonésia.

¿ Ele era apenas uma ¿mula¿ (pessoa que transporta a droga). Um coitado. Usado por traficantes internacionais ¿ afirmou um policial federal.

Cocaína poderia ser trocada por drogas sintéticas

Ainda segundo policiais, na mala de viagem de Vinicius não havia nenhuma roupa ou material de higiene pessoal. Apenas material esportivo, como luvas de boxe e um saco de areia com serragem e pedaços de pneu usados para camuflar a cocaína. Os quase cinco quilos estavam divididos em dez tabletes.

¿ Ele explicou que ia passar 15 dias na Indonésia e lá compraria roupas para usar ¿ disse um policial federal que participou da operação.

Os dois, acreditam os policiais federais, pretendiam trocar parte da cocaína por drogas sintéticas, principalmente ecstasy, skunk (uma espécie de maconha mais concentrada) e LSD. Elas seriam trazidas depois ao Brasil para serem entregues a uma rede de distribuição com ramificações em vários estados brasileiros.

Os policiais federais investigam ainda se os dois pertenceriam a uma quadrilha que nos últimos anos aliciou jovens de classe média alta ¿ quase sempre praticantes de esportes radicais, como o surfe ¿ para transportar cocaína para países com grande fluxo de turismo na Europa e Ásia.

Em fevereiro deste ano, com a prisão do grego naturalizado brasileiro Dimitrius Papageorgiou, a Polícia Federal desarticulou uma quadrilha internacional de tráfico de drogas com ramificações em quatro estados brasileiros. Foi o grupo de Dimitrius que mandou para a Indonésia o brasileiro Rodrigo Gularte, de 32 anos, recentemente condenado à morte por um tribunal do país por tráfico de drogas.

Gularte foi preso em julho do ano passado no Aeroporto Internacional de Jacarta quando tentava entrar no país com seis quilos de cocaína escondidos dentro de pranchas de surfe. O grupo é responsável ainda pelo aliciamento de outros jovens que acabaram presos nos últimos meses em Frankfurt, Paris, Amsterdã e Lisboa.