Título: EMPRESÁRIOS CRITICAM, EM ENCONTRO COM PRESIDENTE, POLÍTICA ECONÔMICA
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 03/12/2005, Economia, p. 35

Juros, câmbio, burocracia e infra-estrutura foram os principais alvos

SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu ontem críticas à atual política econômica, à precária infra-estrutura do país e ao excesso de burocracia, em seminário que reuniu parte da cúpula do governo com cerca de 300 empresários de 28 países. O encontro, organizado pelo governo brasileiro, teve o objetivo de atrair investimentos para o país.

A avaliação dos empresários é de que a manutenção de juros elevados e câmbio depreciado podem tirar a competitividade da economia e afetar novas decisões de investimentos. Coube ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, responder que os sinais são de queda das taxas de juros, mas ele evitou falar se esse ritmo de corte será agora acelerado.

¿ A questão hoje é sobre a velocidade (da queda). Isso não foi mencionado porque é parte da estratégia (do governo) ¿ disse o ministro do Planejamento, Luiz Fernando Furlan, que fez um relato do encontro.

Ameaça de fuga de investimentos para a China

O empresário alemão Klaus Meves, da Hamburg Süd (maior empresa de transportes marítimos da Europa e controlador, no Brasil, da Aliança Navegação), disse que muitos de seus clientes ameaçam deixar de exportar ou transferir sua produção para a China em função da apreciação do real frente ao dólar. Sentado à mesma mesa do presidente Lula, Meves também criticou de forma mais dura a infra-estrutura no país.

Segundo Furlan, Lula prometeu apresentar ainda na próxima semana uma solução para o gargalo nos portos. Ele encarregou o próprio Furlan e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de acelerar as obras de reforma e ampliação de 11 portos, responsáveis por cerca de 90% do volume de cargas no país.

Apesar de cobrarem a aceleração no corte dos juros, alguns empresários acham que o governo não pode ¿relaxar demasiadamente¿.

Para Jorge Gerdau, presidente do grupo Gerdau, medidas mais radicais podem significar sacrifícios a médio prazo.

¿ Mudanças nos juros não podem ser abruptas, sob o risco de perder o sacrifício já feito para controlar a inflação.