Título: ALGOZ HOJE SOLIDÁRIO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 04/12/2005, O País, p. 3

Responsável pela prisão vai a desagravo

SÃO PAULO. Na sexta-feira, 19 de novembro, um homem sisudo, de terno escuro, destoava no ato em defesa do mandato de José Dirceu na Câmara Municipal de São Paulo. Sentado ao lado da mulher e das filhas de Dirceu, o advogado criminalista Herwin de Barros foi prestar solidariedade ao ex-ministro. Os dois se conheceram em circunstâncias bem diferentes, na manhã fria de 12 de outubro de 1968, em Ibiúna (SP). Conhecido à época como Brucutu, o então investigador do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) foi o responsável pela prisão de Dirceu, no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Na sexta-feira, defendeu o ex-deputado:

¿ Foi um linchamento político. Indícios, conjecturas e presunções não têm o condão de condenar ninguém. Ao cassar José Dirceu, a Câmara atendeu a um clamor público. Não podendo excluir o capitão da nau Brasil, o Lula, a oposição derrubou o timoneiro-mor.

Barros não exime Dirceu de culpa. Segundo ele, a cassação deve servir como lição e, agora, sem nada a perder, o ex-deputado está fortalecido para a luta:

¿ Pode ter inflado um pouco o ego, ele cometeu erros crassos e deixou flancos. Quem sabe agora, sem cargo, não se fortalece?

Barros disse que se recusou a cumprir a ordem de espancar Dirceu em outubro de 1968, o que prejudicou sua carreira na polícia.

¿ Queriam que eu levasse os líderes para um canto e fizesse um interrogatório radical. Mas não admito canalhice. Por vezes não importa o lado em que se está e sim o proceder de homem ¿ diz.

Perguntado sobre sua ideologia política, respondeu:

¿ É o meu afeto.

Em 2004, Barros foi recebido por Dirceu, a quem deu o ancinho usado como arma na operação de Ibiúna. Depois conversaram por horas sob uma árvore, na gravação de um documentário coordenado pelo escritor Fernando Morais.

¿ Ele me prometeu um almoço. Gostaria que fosse ainda este ano ¿ cobrou Barros.