Título: INSS: PF fará devassa também em empresas
Autor: Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 12/11/2004, O País, p. 3

O delegado federal Renato Sayão, que investiga o esquema de concessão indevida de certidões negativas de débito no INSS em Cuiabá, informou ontem que a Operação Midas fará uma devassa em processos de cerca de cem empresas beneficiadas por certidões emitidas pelo procurador-chefe do órgão, Álvaro Marçal Mendonça. O procurador está preso desde anteontem, acusado de corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

¿ Isso não quer dizer que todas essas empresas foram beneficiadas. Mas vamos fazer um pente-fino em todos os processos ¿ disse Sayão.

Até agora, nove pessoas foram presas na operação

A Operação Midas foi realizada em seis estados e resultou até agora na prisão de nove pessoas. Outras quatro, entre elas o proprietário da Rosch Informática, José Roberto Schmaltz, ainda eram procuradas até o fim da tarde de ontem. Participam da operação cerca de 70 policiais da PF e fiscais do Ministério da Previdência Social e do Ministério Público Federal.

Uma pane no sistema de dados do INSS levou o ministro da Previdência, Amir Lando, a abrir ontem uma sindicância para apurar responsabilidades. O problema começou anteontem, exatamente na hora da Operação Midas, e está provocando lentidão no acesso às informações. O ministro da Previdência insinuou que a pane no sistema pode ter relação com as investigações da Polícia Federal sobre fraudes no INSS. Segundo o ministro, a pane afeta o trabalho de apuração porque dificulta o acesso aos dados.

¿ Não descarto nem encarto (a ligação da pane com a operação). Apenas o que quero dizer é que esse fato foi alheio ao que tenho de informação. Esses fatos (falha no sistema) escamoteiam dados que precisamos acessar ¿ disse o ministro.

Lando pediu que os segurados evitem procurar as agências do INSS e prometeu que o funcionamento será regularizado dentro de 72 horas. De acordo com o ministro, dados que normalmente são obtidos em poucos segundos estão levando vários minutos para serem fornecidos, o que está emperrando o funcionamento de várias agências em todo o país.

Segundo ele, até o momento o ministério não identificou as causas que estão levando o sistema a funcionar de forma precária. Ontem, o delegado da PF tentou ouvir James Santos Funaro, funcionário da Rosch Informática, e o advogado goiano Rodrigo Jorge, ambos presos anteontem. Segundo Renato Sayão, os dois se recusaram a depor. O procurador Mendonça seria ouvido ainda ontem à noite.

As investigações mostraram que Vandimilson Miguel dos Anjos arregimentava empresas devedoras do INSS para dois escritórios, que intermediavam o pagamento da propina a Álvaro Mendonça. Para não deixar rastro, o procurador-chefe do INSS recebia o dinheiro na conta do engenheiro civil Joel Fagundes Filho, seu amigo. Após o pagamento, emitia a certidão negativa de débito para a empresa que tinha dívidas com o INSS, mas precisa da certidão para participar de licitações públicas ou obter empréstimos junto a órgãos governamentais.

Polícia está à procura de José Roberto Schmaltz

Até agora a Operação Midas tem se concentrado no esquema que teria beneficiado a Rosch, que terceiriza o serviço bancário da Caixa Econômica Federal. Uma equipe está à procura de José Roberto Schmaltz desde quinta-feira pela manhã. Ontem o diretor da Rosch Luís Fernando Flores disse que a empresa foi tomada de surpresa com a notícia de que havia fraudado o INSS.

¿ Não é nossa prática cometer qualquer tipo de fraude contra o patrimônio público.

Segundo ele, a publicidade do caso não deverá prejudicar o contrato com a Caixa Econômica Federal, o maior cliente da empresa.