Título: FGV: brasileiros acham serviço público corrupto
Autor: Leticia Helena
Fonte: O Globo, 04/12/2005, O País, p. 8

Pesquisa revela que 79% dos cidadãos consideram que negociatas estão enraizadas na máquina administrativa

Corrupção. Para 79% dos brasileiros, segundo pesquisa inédita do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), esta é a marca registrada do serviço público. A consulta, feita ao longo de um ano em todo o país, revelou que 3/4 dos cidadãos consideram que negociatas, fraudes e falcatruas estão entranhadas na máquina administrativa do país. O mais grave é que não se trata de uma percepção temporária, ligada apenas à crise política que ocupa o noticiário de maio para cá.

¿ Apenas 16% das entrevistas foram feitas a partir de maio, quando estourou a crise ¿ diz o historiador Carlos Eduardo Sarmento, coordenador do setor de pesquisa da FGV. ¿ Ou seja: mesmo antes dos atuais escândalos, o sentimento de que a corrupção domina o serviço público estava cristalizado.

Submetidos ao questionário de 500 perguntas da Pesquisa Social Brasileira (Pesb), os 1.522 entrevistados foram instados no tema ¿Cidadania, participação e instituições políticas: o que pensa o brasileiro?¿ a fazer uma análise do serviço público em relação à probidade e à eficiência.

No primeiro, 27% responderam que ¿quase todo mundo está envolvido em corrupção¿ e 52% que ¿muita gente está envolvida em corrupção¿. Apenas 1% acredita que ¿quase ninguém está envolvido em corrupção¿ e 8% disseram que ¿um pequeno número está envolvido em corrupção¿. Entre os analfabetos, 48% disseram que ¿quase todo mundo está envolvido em corrupção¿. E dos entrevistados com nível superior, apenas 11% acreditam que a corrupção é praticamente generalizada.

Críticas também à eficiência

Em relação à eficiência, o serviço público também foi reprovado. Para 57% dos entrevistados, o setor é ¿pouco dedicado¿. Outros 22% responderam ¿nada dedicado¿. Apenas 6% consideram ¿muito dedicado¿.

¿ O mais grave é que os brasileiros também duvidam da capacidade de o serviço público corrigir seus erros: para 47% dos cidadãos, essa possibilidade é pequena e, para 21%, é inexistente ¿ afirma Sarmento.

Ao investigar o que pensam os brasileiros sobre cidadania e participação política, a Pesb consolidou a descrença em instituições como partidos, Congresso e Justiça. Uma das perguntas era justamente sobre a avaliação da atuação de instituições democráticas. A mais bem colocada foi a Igreja Católica, considerada ótima por 28% dos entrevistados e boa por 57%. Na outra ponta da lista estão os partidos: apenas 3% dos cidadãos consideram que sua atuação é ótima, contra 41% que disseram ser péssima.

A lanterninha tem ainda o Congresso (6% ótimo e 30% péssimo) e a Justiça (7% ótimo e 25% péssimo). O governo federal ficou no meio termo, com 10% ótimo e 14% péssimo. E os políticos também se saíram mal na Pesb. Para 72% dos cidadãos, a maioria só está na política por benefício pessoal.

Apesar da desilusão com as instituições, a Pesb conclui que o brasileiro está satisfeito com a democracia e acredita que daqui a dez anos ela será muito melhor. Mas, surpreendentemente, 32% acreditam que, se necessário, o governo deve reduzir direitos democráticos.

¿ Os brasileiros confiam nas instituições, mas acham que o governo pode, se preciso, reduzir direitos democráticos, como o de voto ¿ diz Sarmento.

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