Título: RELIGIOSOS SÃO ACUSADOS DE PEDOFILIA
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 04/12/2005, O País, p. 19

Padres são investigados em Goiás, no Maranhão e no Rio Grande do Sul

SÃO LUÍS, GOIÂNIA e PORTO ALEGRE. Em Alexânia, a meio caminho entre Goiânia e Brasília, o padre Edson Alves dos Santos, de 64 anos, está sendo acusado de abuso sexual de quatro crianças e adolescentes. As vítimas trabalharam como coroinhas da paróquia Coração Imaculado de Maria. O caso estourou em agosto, quando a polícia começou a investigar a denúncia de abuso sexual contra uma criança de 10 anos. De acordo com a vítima, o padre o violentou. Edson Alves alegou em depoimento à polícia que tudo se tratava de uma campanha para desmoralizá-lo. A Arquidiocese de Anápolis decidiu afastá-lo da paróquia até que o caso seja esclarecido.

O Ministério Público ofereceu denúncia contra ele. Segunda-feira, testemunhas de defesa e acusação foram ouvidas. Mais três vítimas foram à polícia. Os ex-coroinhas deram detalhes do assédio e dois deles revelaram até sinais físicos que o acusado teria nas partes íntimas. O padre insistiu na tese de perseguição:

¿ É uma farsa armada para atingir minha imagem e a Igreja.

Há 10 dias, outro padre, Tarcísio Sprícigo, foi condenado a 14 anos de prisão em Goiás por assédio sexual a duas crianças em Anápolis. De acordo com o processo, o religioso atraía as vítimas com oferta de aulas de violão, para violentá-las. Entre as provas recolhidas pela polícia está um diário do padre, no qual ele define o perfil das vítimas ¿ de preferência garotos pobres e filhos de pais separados ou mães solteiras ¿ e relata suas conquistas. Sprícigo já tinha sido condenado por abuso contra crianças em São Paulo.

No Maranhão, a polícia investiga o envolvimento de dois padres da paróquia de São Pantaleão com exploração sexual de menores. O padre Félix Carreiro está preso desde 5 de novembro, depois de ser flagrado num motel de São Luís com quatro rapazes, dois deles menores de idade. Durante as investigações, o menor D., em depoimento na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, citou o padre José Raimundo Trindade. O menor disse que se encontrou com Trindade enquanto esperava o padre Félix para um encontro e que ele o convidou para lanchar. Depois foi levado para um lugar deserto, onde Trindade fez sexo oral e lhe pagou 25 reais.

Trindade pediu afastamento da paróquia, o que foi aceito pela Arquidiocese de São Luís. A polícia investiga se os dois padres agiam em conjunto. O Ministério Público do Maranhão confirmou que 12 adolescentes admitiram em depoimento que tiveram relações sexuais com Carreiro.

O advogado do padre Félix, Paulo Cruz, quer a liberdade de seu cliente.

¿ Qual o sentido de manter alguém preso só porque foi pego em um motel na companhia de quatro garotos? Ser homossexual no Maranhão virou crime hediondo ¿ protesta Cruz.

Em Porto Alegre, deve sair esta semana a decisão da Justiça no processo em que o padre Jorge Luiz Gonçalves de Lima é acusado de atentado violento ao pudor. Ele teria mantido, por quase dois anos, relações sexuais com uma menina de nove anos.