Título: ATIVISTA QUER AJUDA PARA ACHAR OSSADA DA IRMÃ
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 04/12/2005, O País, p. 23

Nova representante das famílias na comissão, Diva Santana critica governo por excluir parentes de grupo que vai ao Pará

BRASÍLIA. Militante de direitos humanos, Diva Santana assume a vaga de representante dos parentes na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos num momento de expectativa: está prestes a partir para mais uma busca pelos restos mortais de sua irmã Dinaelza Santana Conqueiro, sumida na Guerrilha do Araguaia desde 1971, quando fez o último contato com a família. Ao mesmo tempo em que substituirá Suzana Lisboa, que deixou a comissão com críticas ao governo, Diva acredita ter encontrado a melhor pista sobre o destino da irmã.

Dinaelza era militante do PCdoB. Seu marido, Vandick Pereira Coqueiro, também sumiu no Araguaia. Ela teria sido executada pelos militares em 8 de abril de 1974.

Viúva de mateiro diz saber localização de ossada

Em maio deste ano, Antônia Vieira, viúva de um mateiro que serviu ao Exército na guerrilha, declarou, num depoimento em cartório em Marabá (PA), saber a localização exata dos restos mortais de Dinaelza.

¿ Essa é a possibilidade mais concreta de encontrar minha irmã ¿ conta Diva.

Diva é uma das fundadoras do Tortura Nunca Mais e vice-presidente do grupo na Bahia. Ajudou a criar os primeiros comitês de anistia, no fim da década de 70, e também viabilizou as caravanas de parentes à região do Araguaia, no sul do Pará:

¿ Oficiamos ao mundo, até mandamos uma carta ao Papa informando que iríamos à região do Araguaia saber o paradeiro dos nossos parentes. Era uma maneira de tentar garantir nossas vidas ¿ conta ela.

A nova representante dos parentes concorda com algumas críticas de Suzana ao governo. Para ela, foi um desrespeito criar um grupo interministerial para tentar localizar ossadas no Pará e não incluir nenhum parente. A resistência do governo em abrir os arquivos da ditadura também é criticada:

¿ Não acredito que a resistência venha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também foi vítima da repressão. Acredito que forças estranhas impedem que os documentos se tornem públicos. Mas não pergunte que forças são essas.