Título: BUROCRACIA MAIOR E ESPECULAÇÃO FINANCEIRA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 04/12/2005, Economia, p. 35

Com juros bem abaixo da média do mercado, as linhas de financiamento do BNDES para micro, pequenas e médias empresas ainda esbarram em problemas antigos. Representantes do setor admitem que os produtos são mais vantajosos do que os encontrados nos bancos de varejo, mas reclamam das garantias exigidas, da burocracia para o acesso aos programas de crédito e da falta de mais informação. Os empréstimos ao segmento, no entanto, representam 29% do total desembolsado pelo BNDES ¿ entre janeiro e outubro de 2005 ¿ somando R$9,7 bilhões em mais de 94,4 mil operações.

Enquanto o custo das linhas do BNDES é de TJLP (9,75% ao ano), mais 1% ao ano (remuneração do banco), acrescido do spread do agente repassador (em média 3% ao ano), no mercado chega a 67,65% ao ano, de acordo com pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

¿ Os juros são bem menores, o que ajuda os pequenos empresários que trabalham com a corda no pescoço. Mas o nível de exigência para obter as linhas do banco às vezes trava as operações ¿ disse o economista do Instituto Fecomércio-RJ, João Carlos Gomes.

Outra reclamação do setor é a exigência de reciprocidade dos agentes repassadores, ou seja, a necessidade de destinar parte dos recursos obtidos nos financiamentos em aplicações financeiras dos próprios bancos que concedem os empréstimos. Segundo uma fonte do BNDES, o banco está apertando a fiscalização neste sentido, para tentar coibir o abuso dos agentes.

¿ Nosso dinheiro é barato e deve ser usado para aumentar a produção, e não para especulação financeira ¿ disse a fonte. (Mirelle de França)