Título: SOB PRESSÃO
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 05/12/2005, O GLOBO, p. 2
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está insatisfeito com as primeiras explicações que recebeu para o crescimento negativo do PIB no terceiro trimestre. Nesta semana, o presidente se reunirá com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para ouvir justificativas mais consistentes e conhecer a visão de futuro da área econômica.
A pressão sobre o ministro Palocci, que começou com a oposição no Congresso na investigação sobre corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto, se deslocou para dentro do governo, tendo como eixo a política econômica. O cargo do ministro não está ameaçado, mas o desconforto é grande. O presidente Lula está a cada dia mais sensível ao discurso econômico da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, do vice-presidente José Alencar, dos ministros da Integração Nacional, Ciro Gomes, do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, da Agricultura, Roberto Rodrigues, e do presidente do BNDES, Guido Mantega. Estes, com o apoio dos políticos governistas, consideram que o crescimento negativo do PIB indica que alguns parâmetros da política econômica devem ser revistos.
Além de acelerar os investimentos públicos, integrantes do governo querem que o Banco Central seja menos conservador ao fixar a taxa de juros. Assim como ocorria no governo anterior, a redução mais acentuada dos juros é uma unanimidade, unindo os governistas e a oposição. No caso do presidente Lula, de acordo com um ministro, há o ingrediente eleitoral. Na defensiva no campo da ética, o presidente Lula conta com o crescimento da economia na campanha pela sua reeleição. Segundo este ministro, o próprio Palocci, fragilizado pelas denúncias no seu entorno e pelo desempenho da política econômica, não tem a força de antes para se impor junto ao presidente.
O ministro Antonio Palocci e o presidente Henrique Meirelles dependem cada vez mais dos humores do mercado para se manterem em seus cargos. A maioria dos petistas, e dos aliados do governo Lula, não tem fé na política econômica. A oposição não quer ser o feitor de Palocci e, por isso, tem pisado no freio no caso das denúncias de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto. Mas a oposição também não quer virar avalista do ministro e de uma política econômica que não cumpriu a promessa de garantir um crescimento maior da economia.