Título: APETITE DE GIGANTE
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 05/12/2005, Economia, p. 17

Petrobras investirá US$1,4 bilhão no exterior em 2006, 40% a mais que neste ano

Em poucos dias ele passou pela Arábia Saudita, voou para Londres, depois foi até o Chile, seguiu para a Argentina e, neste fim de semana, esteve na Venezuela. O roteiro do diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, não deixa dúvidas do apetite da Petrobras, a maior empresa da América Latina, em busca de oportunidades de negócios no mercado internacional. Apetite que vai do poço ao posto: da área de exploração e produção de petróleo, a refino, petroquímica e distribuição de combustíveis. Segundo Cerveró, no próximo ano os investimentos no exterior serão de US$1,4 bilhão, o que representará um aumento de 40% em comparação aos cerca de US$1 bilhão deste ano.

De 2006 a 2010 serão aplicados no mercado internacional US$7,1 bilhões, 13% do total de US$56,4 bilhões que serão investidos pela companhia. Os outros US$49,3 bilhões serão aplicados no Brasil no período. Na África, a empresa investirá US$1,4 bilhão; nos Estados Unidos, US$1,4 bilhão; e em outros países, US$1,2 bilhão.

As metas da Petrobras são ambiciosas tanto no Brasil como lá fora. No mercado nacional, a meta é chegar a uma produção de 2,3 milhões de barris diários em 2010, contra os atuais 1,8 milhão de barris. No exterior, a empresa quer mais do que dobrar a produção, pulando dos atuais 263 mil barris por dia para 545 mil barris em 2010.

O gerente executivo da Área Internacional da Petrobras, João Carlos Figueira, lembra que a Petrobras iniciou suas atividades no exterior em 1972 com a criação da subsidiária Braspetro. Figueira lembra que, naquela ocasião, o objetivo era tentar aumentar a oferta de petróleo para o país. Após a abertura do mercado de petróleo em 1997, os objetivos mudaram.

¿ A partir daí se buscou não só aumentar a atividade no Brasil, mas também a agressividade na atuação internacional ¿ explica Figueira.

Venezuela receberá mais recursos

Atualmente, a Petrobras tem atividades ¿ desde exploração e produção até refino e distribuição de combustíveis ¿ em 14 países. No Japão e na China, já abriu um escritório de representação. No Chile, o primeiro escritório do país foi inaugurado na semana passada. Em oito países a empresa produz ao todo 263 mil barris diários de petróleo e gás natural equivalente. A maior concentração de atividades está nos países da América Latina onde, pela localização, a empresa quer ampliar suas atividades e promover sinergias no chamado Cone Sul.

O diretor da Petrobras adianta que o objetivo é que os investimentos na Venezuela cresçam significativamente nos próximos anos, com o desenvolvimento de campos em associação com a estatal petrolífera do país, a PDVSA. Uma parte do aumento de produção de óleo será refinada na unidade que as duas empresas vão construir em Pernambuco.

¿ As perspectivas são boas. Acho que teremos que ampliar os investimentos previstos na Venezuela ¿ afirma Cerveró.

A empresa estabeleceu três áreas como foco de atuação no exterior: a América do Sul, pelas sinergias que a região permite; os Estados Unidos, em águas profundas no Golfo do México; e a costa oeste da África. Além disso, a Petrobras começa a fazer incursões no Oriente Médio, onde se localizam as maiores reservas de petróleo do mundo. A estatal já está explorando um bloco no mar no Irã e está se aproximando da Arábia Saudita para desenvolver futuros negócios.

¿ Ao mesmo tempo em que temos essas três áreas como foco, fazemos uma saída seletiva para outros países, no sentido de identificar novos negócios que podem se transformar em novas áreas de atuação ¿ comenta Figueira.

Nos Estados Unidos, a Petrobras pretende comprar uma refinaria junto com um parceiro, para fazer as adaptações necessárias ao processamento do petróleo pesado excedente produzido no Brasil. Hoje, já são produzidos cerca de 300 mil barris diários de óleo pesado, principalmente do campo de Marlin, na Bacia de Campos. A perspectiva é de que, em 2010, essa produção chegue a 500 mil barris por dia. A Petrobras considera que a refinaria permitirá aumentar o valor agregado do produto. O petróleo seria refinado nos EUA, um mercado em potencial para compra de combustível.

Estatal tem 98% do mercado boliviano

Cerveró destaca que, apesar desses negócios em vista, o principal objetivo da Petrobras no exterior continuará sendo a expansão da produção de petróleo, que receberá 80% dos investimentos nos próximos anos.

As atividades no mercado internacional já fazem a companhia ter um peso significativo em alguns países. A Petrobras é, por exemplo, a maior empresa e representa quase 20% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas produzidas em um país) da Bolívia, possuindo cerca de 10% das reservas de gás daquele país. A estatal brasileira tem uma participação de 98% do mercado de refino boliviano ¿ mesmo índice do Brasil ¿ 25% do mercado de combustíveis e 63% do mercado de lubrificantes.

Na Argentina, a Petrobras estima que tem 14,7% de participação no mercado de combustíveis automotivos e 8,1% no de lubrificantes. No ano passado, a Petrobras foi responsável por 17% da produção da América Latina e 26% da capacidade de refino, incluindo o Brasil.